Ágata estava toda feliz por ter conseguido dar conta, ao longo desses anos todos, das demandas acadêmicas de sua Universidade. E agora ela estava indo para a redação em seu primeiro dia de trabalho, como jornalista. Mas ela ainda sentia muita falta de seu antigo trabalho na livraria lello. Atender as pessoas e dizê-las aonde estava um determinado livro era um prazer inestimável para ela. Mas por outro lado, ela sabia que para alçar voos mais altos era preciso abandonar seu presente e seguir rumo à um futuro ainda inexplorado e muitas das vezes, em um primeiro momento, até um pouquinho hostil.
– Bom dia!
– Você deve ser a senhorita Ágata, estou certa disto?
– Sou eu mesma!
– Bem vindo ao jornal!… Vou lhe mostrar a sua mesa. Venha comigo, por favor.
Ao caminhar até a sua mesa, Ágata contemplou toda aquela redação do jornal e é claro que se deslumbrou com tudo aquilo. Cada jornalista tinha um Macintosh de última geração em sua mesa, para fazer matérias exclusivas sobre o que estava acontecendo em todo o mundo com o máximo de profissionalismo, é claro.
– Aqui está a sua mesa!… Espero que goste de sua acomodação para fazer as suas matérias com o máximo de atenção e ética. Uma dica: se preocupe em esmiuçar ao máximo suas fontes pois a chefe da edição adora isso. Tudo bem?
– Desculpe… mas como você se chama mesmo?… – pergunta Ágata, ainda tentando se concentrar em sua mesa apenas.
– Me chamo Joaquina!… Fique bem aqui pois daqui a pouco a nossa chefe irá te chamar para lhe dizer sobre que parte do mundo você ficará encarregada de cobrir. Tudo bem?
– Ótimo!
Ágata resolve ir tirando as suas coisas da bolsa para ir enfeitando um pouco aquele escritório branco que mais parecia saído de uma fábrica de produção. Mas no momento seguinte, ela olha para o seu Macintosh ligado e uma chamada entra na tela vindo da alta cúpula do jornal. Devia ser a sua nova chefe.
– Alô!… Quem fala?
– Me chamo Priscila e sou a chefe deste jornal… – informa a imagem com áudio do outro lado da redação – Seja muito bem vinda ao nosso jornal!
– O prazer é todo meu!
– Para nós é uma honra muito grande termos escolhida você para escrever em nome da opinião editorial deste jornal que vos fala. E assim, gostaria de ir direto ao ponto por aqui.
– Faça o favor!
– Bem… Lhe demos essa oportunidade de emprego pois lemos algumas matérias que você escreveu ao longo de sua formação acadêmica sobre o mundo e nos interessamos muito em ter você em nossa estimada equipa. Feito isso, chegou a hora de te informamos sobre o que você irá escrever no jornal de domingo por enquanto.
– Mas quer dizer que só vou ter uma coluna semanal aos domingos? – pergunta Ágata se sentindo um pouco prejudicada com isso tudo.
– Exato! Mas você precisa entender que só os melhores de Portugal escrevem aos Domingos e deixamos uma coluna livre em nosso jornal para você escrever sobre o que quiser. O que acha desta proposta?… Pois vamos entender perfeitamente se não quiser fazer parte de nossa equipa.
– Mas é claro que eu aceito a proposta! – Ágata se endireita na cadeira, como se estivesse reformulando os seus pensamentos em relação ao novo emprego.
– A carga horária é de 20 horas semanais obrigatórios na redação e mais 10 horas livres ao estilo do home office. E o salário é de 15 mil euros mensais. O que achas disto?…
Ágata ficou sem palavras. Quer dizer então que tudo que ela tinha feito tinha valido muito à pena. Afinal, no final de seu pós doutorado ela já estava muito cansada e esgotada mentalmente. E agora ela poderia descansar escrevendo sobre o que ela quisesse e somente aos domingos. Parecia um sonho, mas felizmente não era.
– Mas é claro que eu aceito, senhorita Priscila. E já quero começar a pesquisar sobre o que vou escrever no próximo domingo. Mas acho que vou ficar encarregada de escrever sobre as políticas internacionais mesmo. O que achas?… Pois sempre foi um assunto que me fascinou muito. Informar meus novos leitores sobre o que está acontecendo no mundo em forma de crônica ou conto é um verdadeiro sonho. Além de tentar captar a atenção deles em poucas palavras num mundo repleto de informações em seus telemóveis.
– Então mãos à obra senhorita Ágata! Mal posso esperar para ler as suas crônicas de domingo antes de todo mundo. Só não esqueça de me enviá-las para poder aprová-las antes. Tudo bem?
– Perfeito! – Ágata imediatamente encerra a ligação e já começa a ler as matérias de jornais europeus em seu Macintosh, ao mesmo tempo em que fazia anotações em seu caderninho de bolso rosa imaginando futuros textos de qualidade que o leitor iria querer em quantidades cada vez maiores até que ela conseguisse uma matéria de capa naquele jornal do Porto.

