O ambiente na redação do jornal era muito acolhedor e familiar. Pois todos os jornalistas na hora do café paravam para falar sobre as suas colunas. Diziam que a economia e a política do Brasil não ia bem; se preocupavam com as novas eleições para primeiro ministro na Alemanha; se intrigavam com as demissões em massa que também estava acontecendo na Wolkswagen, Mercedens-Benz e BMW, por causa da mudança dos combustíveis fósseis para a energia elétrica de suas baterias super potentes também.
Entre uma conversa e outra, sempre tinha espaço para quem era affair de quem na redação. Ágata tinha todos os homens dali aos seus pés. Mas ela parecia não querer ter tempo para aquilo. Pois sua preocupação era tão grande em viver que ela se esquecia de outras necessidade básicas como o sexo, por exemplo.
Um vinha à sua mesa lhe entregar buques de rosas, outro ia lhe entregar sua coluna em primeira mão, enquanto o mais safado lhe enviada mensagens em seu Macintosh marcando um horário num restaurante super chique de Portugal, ao qual ela nunca comparecia.
Muitos se intrigavam com aquilo, porque a grande maioria que estava naquela redação tinha algum caso ou paquera dentro ou fora do jornal, que servia como uma grande fonte de distração diante daquele mundo cada vez mais anti democrático.
Ágata chegava na redação sempre de forma muito pontual. Deixava sua bolsa em sua mesa e ia logo pegar o café que servia para ela espantar toda a preguiça que sentia ao pensar em temas abstratos para as suas futuras colunas.
Discutia política, economia, cultura e arte com o máximo de afinco como se aquilo fosse sua vida em tempo integral. Muitos diziam pelas suas costas, que ela devia procurar um relacionamento para esquecer um pouco o que estava acontecendo no mundo, mas de nada adiantava. Seu mundo era aquele e ela era o mundo.
Acredito que a maioria das mulheres tinham uma certa inveja dela, principalmente, porque elas lhe viam como a essência máxima da liberdade e empoderamento; sem filhos e muito menos amantes. Ágata vivia sem ter que explicar para onde ia ou com quem iria, à que horas poderia voltar para cuidar de seus filhos e essas coisas que uma família se preocupa quando alguém sonha em ter um ambiente familiar estável e neutro. Livre de ser surpreendido pelo acaso de viver em completa liberdade de ir e vir que poucos sentiam, mas que muitos sonhavam depois de ter filhos.
Na redação era a única que falava em ser nomade. E dava para perceber a excitação que sentia ao pensar em não ter casa e um lugar fixo para voltar depois do trabalho. Apesar de sempre voltar para o mesmo apartamento que comprou desde que chegou em Portugal para morar.
Acredito que a liberdade que ela mais queria era a do pensamento apenas. Ainda mais sendo uma imigrante em terras lusas. Ela gostava do fluxo de trocas entre um estrangeiro e um residente. Pensava que isso por sí só já valia todo o esforço de ter conseguido mudar de país, pois a cultura que os outros lhe transmitiam não tinha preço.
Cada língua tinha seus dialetos de desejos e aspirações que muita das vezes uma única sociedade não compreenderia com uma certa facilidade. Por isso, a importância de viajar e experiênciar outras culturas servia-lhe para expandir a sua mente tentando nunca criar certos preconceitos entres povos e nações.
É claro que ela se preocupou quando os Estados Unidos resolveu fechar as suas fronteiras em definitivo para receber os imigrantes. Pois ela sabia que aquele país poderia ganhar muito mais com as fronteiras abertas do que com as porteiras fechadas. Seu maior medo era que a Europa e o mundo fizessem o mesmo movimento norte americano, impedindo assim, que a economia ficasse mais miscigenada e plural.
Ágata sentiu um certo preconceito quando veio morar em Portugal. Ela rapidamente teve que se adaptar com a pronúncia das palavras na Universidade para não ser hostilizada pelos professores mais conservadores, é claro; no ato da compra do seu imóvel, por exemplo, foi um outro caso. Onde a família só aceitou fazer a transferência de propriedade mediante ao pagamento à vista, por ela ser brasileira; sem contar na livraria lello também, onde seus colegas de trabalho não aceitavam de maneira nenhuma as ordens de uma simples brasileira; e na redação do jornal também não foi nada diferente no inicio pelo menos. Pois ela era a única estrangeira.
Por ter passado por todos esses percalços, Portugal ainda era em sua opinião, um lugar muito acolhedor com os seus imigrantes. Era só você ser educada e saber respeitar as filas que enlançam a sua vida cotidiana. Seja para comprar roupas ou ir até um restaurante requisitado.
Em sua visão, era exatamente isso que fazia o mundo valer a pena. Você saber respeitar outras culturas e sociedades e ter que se adaptar à elas levando consigo, suas próprias experiências e visões de mundo que poderiam sempre ser mudadas e transformadas em uma nova cidadã do mundo. Independente de onde você veio ou vai daqui para a frente.

