Ninguém poderia prever o fim daquele conflito. Mas em um dia frio de dezembro, ele chegou ao fim, trazendo consigo todas as marcas da derrota. Nenhum país saiu com as glórias da vitória, como aconteceu com as duas grandes guerras anteriores. E assim, os esforços envolvidos para a reconstrução de cada país foram enormes.
Muitos países pediram empréstimos, inclusive os Estados Unidos, a Rússia e a China. Abrindo assim, as portas para que as potências menores fizessem a mesma coisa. Colapsando de vez os bancos internacionais.
Ágata ficou bem assustada com aquela situação, pois a maioria dos jornalistas de guerra que sobreviveram, como ela ao conflito, não tinham como prever o que iria acontecer dali para a frente. E muitos foram para o campo da poesia e da literatura como tentativa de externalizar o que estavam sentindo com aquilo tudo que tinha restado da civilização humana.
Das livrarias que ficaram de pé a única que restou foi a Livraria Lello, no Porto, em Portugal. Então a maioria dos livros que eram lançados no pós guerra eram obras de jornalistas que experienciaram de frente o conflito como protagonistas. Via-se muitos livros sobre poesia. E até parecia que alguns escritores não queriam escrever sobre o conflito, e assim, faziam-se alusões ao conflito de maneira muito romanceada.
Mas a escrita de Ágata era bem diferente. Sua produção se dava no que ela tinha escutado, visto e presenciado sobre o conflito com exclusividade. Porém, tinha um problema. Ela não conseguia indicar quem tinha saído vitorioso com aquela guerra daqueles que tinham saído derrotados. E assim, seus textos foram perdendo credibilidade jornalística também, junto com os seus colegas de trabalho que optavam por não querer escrever sobre o que tinha acontecido.
As editoras queriam poesia e romances fictícios, alegando que a população precisava ser amada novamente, e assim, tudo que era produzido sobre o conflito vindo de historiadores e jornalistas, era imediatamente rejeitado pelas editoras e jornais locais.
Ágata ficou extremamente decepcionada com aquela medida. E assim, tentou os primeiros esboços de um novo romance que nunca viu a luz do dia entre leitores, escritores, editores e livrarias ao redor do mundo.
Ela descartou logo a ideia daquilo e teve a ideia de criar um site para que pudesse mostrar o que tinha acontecido na guerra com as pessoas que viviam em Portugal, pelo menos. Mas ela logo observou que o seu site não estava tendo tráfego algum com novos leitores, pois as pessoas teimavam em usar a leitura como forma de entreterimento apenas, e não mais como arma para se informar, como acontecida antigamente com a sua reputação.
Mas Ágata era muito teimosa e continuou a escrever em seu site, mesmo sabendo que ninguém nunca leria as suas matérias e colunas jornalísticas como antigamente.
A maioria dos jornais fecharam as portas e os que ainda estavam em pé só publicavam crônicas do dia a dia como forma de entreterimento. Ao qual eram vendidos milhares de exemplares junto com as editoras de livros que faziam o mesmo com os novos romances históricos repletos de amor e paixão.
Ágata se viu totalmente perdida no mercado editorial. Pois o que antes era publicado aos milhões agora tudo passava pelo crivo da autoridade do estado que lia suas colunas e matérias com muito afinco e depois recusavam o seu trabalho alegando que as pessoas iriam ficar depressivas com as fotos que poderiam ser impressas nos jornais sobre a guerra em questão.
E assim, os jornais e editoras pareciam ignorar o que era escrito sobre a guerra, dando sempre preferência à ilusão momentânea da contemporâneidade.

