Ágata estava passando por um momento péssimo em sua vida profissional. Tinha sido demitida das Universidades de Portugal onde dava aulas e palestras sobre a geopolítica mundial; e também não era mais requisitada para escrever novas matérias e colunas nos jornais locais. E assim, decidiu por conta própria, voltar a trabalhar na Livraria Lello, atendendo as pessoas como se a sua vida antiga pudesse ser completamente apagada.
As pessoas entravam na livraria e tomavam um choque por ver uma correspondente de guerra ali, trabalhando como se nada tivesse acontecido.
Ágata sempre era solicita com todos e mais uma vez chegou ao cargo de gerente da livraria, mas mesmo assim, insistia em organizar os livros por assuntos, colocando na vitrine os mais vendidos do pós guerra.
Mas ela sabia que tinha algo de estranho naquele novo mundo. Pois a grande maioria não queria saber mais de história, muito menos de jornalismo investigativo. E assim, a Livraria Lello passou a encomendar somente livros de poesias e romances, que saiam como água; enquanto outros assuntos, encalhavam nas prateleiras e acabavam acumulando uma poeira enorme.
Ágata ficava muito chateada com aquilo tudo, pois ela sempre tinha preservado em sua vida, a liberdade de pensamento e a reflexão profunda sobre temas existenciais, que afligiam diretamente a sociedade. Mas parecia que agora, as pessoas não queriam pensar sobre o que tinha acontecido no mundo. Se desviando para poesias e romances que não levavam à lugar nenhum.
Ela até tentava conversar com alguns amigos que restaram no pós guerra, mas eles logo desconversavam alegando que a sociedade estava muito ocupada tentando reconstruir tudo o que tinha sido destruído no conflito. E assim, mais uma vez, ela foi silenciada.
Ágata então retomou o seu serviço na Livraria Lello com muito afinco. Mas insistia em Passar o seu tempo livre entre livros velhos de história. Resolveu cortar o sinal de sua antena de televisão também, alegando para os provedores que o jornalismo tinha acabado.
E assim, ela foi obrigada a dar sequência à sua vida, mas nos momentos vagos tornava à escrever romances históricos com uma assiduidade incrível. Pois ela sabia que muito em breve seria publicada por alguma grande editora e que o lançamento de seu próximo livro seria na Livraria Lello. E ninguém poderia silenciá-la com o que ela tinha visto e escrito sobre o conflito que tinha mudado a consciência de uma nova geração do pós guerra.

