Ágata chegou a conhecer pessoalmente o presidente de Portugal. Acabou ganhando uma medalha de honra como se fosse uma cavaleira solitária igual a Joana d’Arc tinha sido na idade média. Mas pelo menos, não tinha sido queimada viva pelo povo em constante revolução na França.
Por um lado, até que tinha sido bom todo aquele reconhecimento em rede nacional. O Presidente lhe aconselhou a continuar o seu trabalho como ativista e escritora. Pois em sua visão, ainda tinha muitos jovens perdidos na sociedade sem saber o que fariam da vida. E ela era um exemplo a ser seguido dali para a frente.
Ágata concordou com aquilo tentando disfaçar, mas ainda se achava tão ou mais perdida que os seus séquito fiéis de fãs ao redor do mundo. Pois o que ela tinha a dizer à eles?… Por onde teriam que começar suas vidas sem sentido?… Para onde iriam depois de uma revolução banhada à sangue e desilusões?… E por fim… Onde aquelas estradas lhe levariam depois de um dia de trabalho árduo, mas muito produtivo artísticamente?…
O que ela faria ao final da estrada?…
Tinha trocado de nome e em várias entrevistas mundo afora, quase não dizia quem tinha sido suas influências no ramo artístico. E afinal… o que isso importava?
O importante era influenciar pessoas a conseguirem a proeza de realizar os seus sonhos de maneira que a Arte pudesse falar por si só. E ao fim e ao caso… o que realmente importava era a eternidade de já ter percorrido diversas estradas que muitas das vezes poderiam levar a abismos intransponíveis, mas que por outro lado, poderiam levar a descobertas de outros modos de vida, que antes era impensáveis de se planejar.
E era exatamente isso que Ágata estava fazendo com a sua vida. Pois seus ídolos já estavam todos mortos e ela ainda permanecia a mesma criança de sempre. Desertora, arisca e bastarda. Sendo dona do mundo e o mundo pertencente à um outro alguém. Que muitos diziam ser de Deus ou de algum guru budista com um nome esquisito, mas que estava cheio de sabedoria filosófica, que no final, não servia de nada, se você fosse aquele alguém que simplesmente não agia.
Ninguém poderia lhe mostrar o caminho. Pois cada um tinha que percorrer o seu sem a ajuda de nenhum pedinte. E assim, Ágata se tornou um simbolo de resistência feminina e um exemplo a ser seguido. Mas nem todos tinham os seus talentos para a escrita e a reflexão. Pois aquilo era só dela! E ela não podia se dar ao gosto de sair por aí distribuindo seus panfletos com histórias que eram achadas nas ruas por caminhoneiros que sorriam ao lerem aquilo.
Levavam para as suas esposas em casa como se tivessem encontrado diamentes no meio da rua. E muitos colocavam em murais e em quadros com muito valor de mercado. E assim, Ágata ia vivendo e escrevendo o que lhe vinha pela cabeça, como se ela tivesse o poder de mudar o mundo com suas reflexões sobre um possível mundo melhor. E no final… talvez tivesse esse poder mesmo.
Suas lembranças daquele país do futuro logo vieram à sua cabeça. Mas ela não teve a coragem de voltar para o Brasil. Nem para visitá-lo por um instante sequer. Pois acreditava naquela profecia que dizia que ninguém poderia voltar para a sua terra natal, pois muita das vezes, a pessoa poderia encontrar o local totalmente modificado e isso por si só, não valia a pena de ser visto, para logo em seguida, se tornar um ambiente decepcionável.
E assim, Ágata decidiu seguir em frente, angariando experiências, decepções e amarguras que se transformaram em ótimas histórias que terminavam em algum livro ou postal de boas vindas à nova terra portuguesa. Que tinha sido descoberta por um enxame de brasileiros bem capacitados e comprometidos por um mundo melhor que não fosse aquele em que conheciam, onde o governo roubava o povo e o povo roubava à sí mesmo no meio da rua, não importando se fosse no período diurno ou noturno.

