Ágata enfim tinha chegado ao topo. Aquele lugar onde todos almejam mas que pouquíssimos conseguem estar em permanente êxtase. Tinha conseguido bons empregos sendo uma mera estrangeira em terras lusas, mesmo ela tendo dupla cidadania.
Afinal, ela sempre seria uma forasteira. Não importava se ela introduzisse algumas palavras em seu vocabulário, que só eram ditas em Portugal. Seu sotaque à entregava. Ela afirmava em querer esquecer o seu passado. Mas isso era impossível de se fazer. Pois sua trajetória estava impreganada de memórias sensíveis.
A grande questão que permanecia em sua cabeça era: O que ela iria fazer com a sua vida dali para a frente?
Será que teria para onde ir?…
Tinha se tornado uma grande escritora, jornalista e professora.
Sua vida pessoal não importava. Não tinha paciência para namoricos de beira de estrada. Estava muito ocupada tentando ser artista circense com suas palavras sempre em malabarismos.
Tinha conseguido mudar um pouco o mundo. As pessoas já não eram mais guiadas por redes sociais. Preferiam redescobrir algum livro mofado nas estantes das bibliotecas do estado, que ninguém tinha tido à coragem de folheá-lo, ainda.
Assim, parecia que a sua tarefa na terra já estava cumprida.
Os países se repeitavam mutuamente, sem que ninguém se atrevesse a entrar em guerras comerciais, com tarifas altas de exportação e importação, como era o desejo do então ex-presidente dos Estados Unidos: Donald Trump.
Outra política que Ágata acompanhou bem de perto foi a criação de um passaporte único. Onde todos poderiam circular livremente por qualquer país que quisessem, sem que com isso, pudessem sofrer as consequências de uma alfândega sempre maldosa e desconfiada de tudo e de todos.
Agora, todos eram cidadãos do mundo. Usando uma mesma nacionalidade para poderem circular livremente. E assim, alguns começaram a ter sentimentos patrióticos pela mãe terra, dizendo que pertenciam à ela e à ela tudo deviam.
Todos eram donos da terra. E isso causou como consequência um uso muito mais responsável de tudo que era público. Desde escolas até praças da vizinhança.
O trabalho obrigatório passou a ser três vezes por semana apenas. Pois a nova sociedade alegava que tanto o homem como a mulher tinham que passar mais tempo com suas adoradas famílias. E assim, o capitalismo desenfreado foi sendo minado até a sua extinção completa. Levando os mais ricos a perderem todas as suas fortunas aplicadas em bancos e imediatamente convertidas para as instituições de caridade mundo afora.
Ágata adorava encontrar alguns viajantes pela estrada – quando ia reabastecer seu veículo com algum frentista de plantão – Que levava consigo apenas o necessário para sobreviver às suas próprias intempéries ocasionais. Sobreviviam com o que tinham em suas pequenas mochilas. E lhe diziam que estavam fazendo aquilo por causa de seus textos elucidativos. E assim, Ágata foi levada à agir também.
Se despediu de seus colegas na redação do jornal; nas Universidades em que dava aulas e palestras; e como gerente daquela querida livraria que fazia parte de sua vida, chamada apenas de Lello, para os mais íntimos.
É claro que alguns já estavam suspeitando daquilo faz tempo. Mas em seu último dia de trabalho, sua estagiária pessoal já sabia que não à veria mais por ali. Pois Ágata olhava para aquele lugar como se estivesse se despedindo de todos, ao escutar aquele barulho gostoso de vozes pedindo novos furos jornalísticos para as suas fontes sempre anônimas.
Nas Universidades e na livraria Lello foram a mesma coisa. Ágata nunca se despedia de ninguém alegando não suportar aquilo rotineiramente. Mas naquele dia em específico, fez questão de cumprimentar seus mentores, colegas e aprendizes de capa preta. E logo, mais alguns acharam aquilo muito estranho, mas decidiriam seguir com suas vidas sem pensar muito naquilo.
No dia seguinte, para a surpresa da maioria, Ágata havia desaparecido sem deixar rastros em Portugal. Alguns diziam que à tinham visto na Espanha, Alemanha, outros na Itália e na França. E assim, o seu mito foi sendo criado a posteriori. Alguns também diziam que à tinham visto na estrada com uma mochila verde militar enorme, carregando apenas alguns suprimentos e se juntando fielmente ao seu séquito de seguidores nômades e ainda um pouco digitais.

