A poesia encontrada nas ruas

Ágata tinha virado uma lenda urbana. Uns diziam que em seus momentos finais ela estava lá para consolá-los até o juízo final; outros, diziam que ela tinha lhes protegido de algum perigo iminente como saqueamentos e roubos.

Na redação do jornal português a decepção era gigantesca. A grande maioria não acreditava que a redatora chefe tinha pedido demissão para se tornar uma singela peregrina das estradas. Não entendiam o por quê dela ter escolhido aquele caminho incerto sem dinheiro para se alimentar muita das vezes.

Enquanto isso, nas Universidades – onde Ágata deu as suas aulas e palestras sobre a geopolítica mundial – o sentimento era mais profundo e intenso. Seus colegas de ofício preferiam não falar sobre o assunto, mas nas aulas a maioria dos aprendizes insistiam no assunto, lendo cada vez mais os seus livros e artigos que ela tinha deixado para estudo. Ágata tinha virado uma espécie de celebridade intelectual.

Já na Livraria Lello – onde por muito tempo tinha sido auxilixar e gerente – seus amigos entenderam perfeitamente aquela atitude bem pensada e planejada. Enquanto seus livros esgotavam na mesma velocidade que entravam no sistema.

Os paparazzi agora tinham uma nova missão dificílima: encontrá-la custe o que custar; e qualquer foto que lembrasse seus feitos ou sua aparência, ela colocada nos jornais do dia seguinte trazendo um enorme lucro bancário para os empresários de plantão. Alguns até conseguiram tirar fotos de pessoas que até pareciam com ela no tamanho e no peso. Mas logo em seguida, muitos pensavam que não era ela naquela fotografia embaçada.

Mas quem mais lucrou com aquele sumiço foram as editoras, que se degladiavam-se para ver quem iria sair na frente daquelas publicações que reuniam todo o seu trabalho em vários volumes. Mas por fim, tivemos uma editora campeã, que acabou ganhando da Bíblia, como o livro mais importante já escrito no universo.

As pessoas à liam como se os seus textos fossem uma espécie de religião à ser proliferada em todo o planeta. Liam-na de manhã, tarde e noite. Antes e depois dos trabalhos de casa.

É claro que as igrejas ficaram apavoradas com aquilo. Pois quase mais ninguém ia aos seus cultos semanais, alegando que não iam mais sustentar aquele pastor ou padre que fingia guiar suas ovelhas pelo caminho do nosso senhor.

Ágata foi condenada por desvirtuar à ordem pública. Mas à essa hora já não mais importava, pois ninguém sabia aonde ela andava. Porém, para a grande maioria, ela tinha se tornado onipresente.

Sua onipresença era vista nos jornais ao redor do mundo. Pois diversas publicações diziam que ela estava na Ucrânia guerrando ou na Palestina defendendo os injustiçados.

Alguns diziam que tinham sonhado com ela. Que ela trazia boas novas para um mundo mais humano e justo. Livre de guerras e tarifas comerciais. Dizia que todos teriam livre acesso em qualquer país do mundo. Mas muitos duvidavam daquilo. Pensavam que estavam ficando malucos. Procuravam psiquiatras forenses que acabavam lhes dizendo a mesmo coisa que Ágata também acreditava em seus textos e livros. E assim, aceitavam o veredicto de uma intelectual das ruas, ao qual, ninguém sabia o seu nome e de onde teria tirado aquelas ideias revolucionárias que mudaram o mundo, prestes à entrar em extinção.

Seu nome tinha virado sinônimo de revoluções sociais.


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