Ágata começava a sentir falta de seu passado. Dos tempos onde as crianças brincavam nas ruas, se sujavam, faziam besteiras que não eram ditas aos seus pais. De tempos onde as telas não faziam parte do cotidiano dos adolescentes. Não se sabia, por exemplo, o que o seu ídolo estava fazendo à uma hora daquelas da madrugada.
Mas aí veio as redes sociais e tudo isso se perdeu. As pessoas acabavam descobrindo tudo uns dos outros, pois a grande maioria postava tudo naquelas plataformas. Foi-se embora à descoberta e à curiosidade, pois agora era só digitar o nome de qualquer pessoa naqueles aplicativos e assim, se veria tudo. O que ela tinha comido, bebido, namorado, casado ou por onde tinha viajado.
Ágata não via necessidade de ter aquilo em pleno século XXI, preferia descobrir algo lendo algum jornal de beira de estrada. Para quê descobrir tudo de seus ídolos?… Qual era a graça que isso tinha?… Era esse o motivo que dificilmente conseguia ler uma biografia até o final. Gostava de deixar aquilo encoberto. Odiava fofocas que não levavam à lugar nenhum. Preferia admirar algum músico, compositor ou escritor que quase ninguém conhecia pela imprensa, para manter à curiosidade sempre aguçada.
Hoje em dia, isso era totalmente diferente. Bastava alguém se destacar em algo que logo a imprensa corria para desvendar aquele enigma em um singela resenha de nota de rodapé de jornal. Qual era a graça nisso tudo?… O interessante no mundo dos artistas em geral, era o enigma e a magia de ser quem era.
Mas agora tudo isso tinha mudado. As pessoas se desinteressavam quase que no mesmo instante de se interessar por alguém antes de estudá-lo mais a fundo. Culpa da mídia?… Talvez.
Tudo nessa sociedade tinha se transformado no imediatismo. As pessoas queriam tudo para ontem sem apreciar a estrada que chegaria no local pretendido. Qual era a graça nisso tudo?…
A magia do artista foi destruído pela tecnologia de ponta. A inteligência artificial iria deixar todos os compositores e escritores para trás. E num mundo pós-apocalíptico, a arte seria reservada às máquinas, que saberiam dezenas de idiomas e com isso, reescreveriam a história da humanidade em hieróglifos pouco amigáveis.
Será que o mundo da arte estaria perdido para sempre?
Pensava Ágata até tarde da noite em sua cama. De uma maneira geral, o mundo estava mais preto no branco. Pois as cores eram dadas pela tecnologia, com filtros que faziam as pessoas não serem mais elas mesmas. Elas podiam ajeitar seus corpos imperfeitos, transformando-os em seres biônicos. Que valiam fortunas em cirurgias plásticas que levavam a assinatura do médico responsável por aquilo.
Isso não era vida. A arte de envelhecer estava se perdendo e junto com ela toda a sabedoria do mundo também. Todos ansiavam ir para a academia, malhar seus corpos vazios de conteúdo e postar suas fotos na internet que não significavam nada para ninguém.
Ágata sempre preferia as estradas. Tinha se encontrado na imensidão das rodovias inexploradas. Alguns até à reconheciam pelos seus feitos, mas logo em seguida, preferiam ficar com suas cabeças enfurnadas naquelas telas que nada diziam por horas à fio.
Ágata não se importava com aquela nova vida que era vendida através de telas de celulares. Preferia tomar conta de seus próprios interesses, mas sabia que aquilo um dia iria matar várias pessoas de esgotamento mental. E foi o que aconteceu em alguns meses depois.
Acabou lendo aquela notícia estampada nos jornais, enquanto estava pedindo carona no acostamento de alguma estrada, que mal à aceitavam como indigente.
A grande questão em sua vida agora era qual caminho teria que seguir, a partir daquele instante. Ela confessava em seus diários que estava perdida desde à mocidade e que nunca teve a privilégio de se encontrar. Mas vendo o estado atual da sociedade logo percebeu que a maioria estava no mesmo barco do que o dela. Porém, a maior parte delas preferia levar seus amados celulares para dentro do túmulo, enquanto ela preferia roupas simples e tênis.

