Ágata estava novamente vivendo em aeroportos. Anotava os próximos passos de sua jornada em seu diário e depois fazia outros planos que preferia não escrever em lugar algum. Já tinha percorrido um longo caminho. Mas sua vida era um constante fluxo de ideias e pensamentos que tinham que ser colocadas logo em prática. Tinha medo que outras pessoas estivessem vivendo aqueles mesmos pesadelos que ela.
Não tinha a mínima ideia para onde iria. Queria apenas pegar um roteiro qualquer que à transformasse em outra pessoa depois que o avião pousasse.
Estava bem cansada daquele papel que ela tinha exercido com o passar dos anos. O ato de escrever e dar aulas tinham levado-a ao esgotamento físico e mental.
Andando pelo aeroporto viu um enorme mapa mundi estampado em uma parede de embarque, mas não queria ir à lugar nenhum. Queria morar em aeroportos para sempre. Gostava de ver o fluxo de pessoas indo e vindo almejando sempre à busca por informações de voo.
Os melhores lugares nos aeroportos eram as sessões reservadas, onde só a elite poderia entrar para comer e ver os noticiários do mundo em várias línguas. Mas para isso era preciso ter um cartão de crédito especial. Mas Ágata sempre arranjava uma maneira de entrar nesses locais para observar as pessoas falando sobre assuntos banais do cotidiano. Isso a ajudava à enfrentar seus problemas pessoais de não ter um lar fixo para morar, por exemplo.
Os cafés também eram excelentes locais para se estar. As pessoas normalmente entravam em filas para poder comer alguma coisa do caríssimo cardápio e isso à fazia muito feliz. Pois só de estar perto de alguns mochileiros, Ágata se sentia mais viva e dignia de continuar tendo aquela vida nômade de estrada.
Os mochileiros eram pessoas que lhe chamavam muito à atenção. Sempre estavam em busca de rotas que ninguém sabia que existiam. Conversavam livremente com qualquer tipo de pessoa sem nenhum tipo de preconceito pré-estabelecido. E assim, iam aos seus locais de destino e depois refaziam todo o percurso novamente, trazendo consigo, lembranças e relações que tinham construído com pessoas desconhecidas de sua família e amigos.
Eles criavam laços com os estranhos. Captavam suas experiências de vida e depois refaziam suas personas, tornando-as um pouco mais irreconhecíveis. Suas famílias e amigos, normalmente depois daquelas viagens malucas, já não mais o reconheciam. Parecia que eles tinham vindo de uma guerra desconhecida com eles mesmos. E assim, quando todos já tinham conhecimento sobre aquelas novas mudanças, deciciam partir novamente em busca de novos horizontes.
Ágata também se sentia assim, mas era mais caseira, mesmo não tendo mais um lar. Tinha vendido seu apartamento em Portugal e sua casa na Dinamarca. E agora vivia em aeroportos.Teve a grande ideia de comprar uma tenda e fazê-la de casa, mas teve que pedir autorização aos aeroportos para isso.
Com a licença em mãos, transitava por diversos aeroportos trocando seu dinheiro pela moeda local e imediatamante montava sua cabana para marcar território, mas as vezes tinha à impressão de que não estava indo para lugar algum. Mas ela preferia assim, dizia que seu lugar era nas fronterias dos países e logo, se tornou atração turística dos aeroportos mundo afora.
Pessoas tiravam fotos dela para exaltar aquele novo modelo à ser seguido e assim, mais e mais pessoas começaram a viver do mesmo jeito que ela. Vendiam seus pertences para morar em aeroportos. E o que antes era um lugar de passagem se tornou residência fixa, deixando-a muita confusa.
Pois aquele era o seu modo de vida e não um exemplo à ser seguido por massas sem opinião formada.
Como consequência, Ágata resolveu desmontar logo a sua cabana tendo que decidir para onde iria no mapa mundi. E escolheu o Polo Ártico para passar um tempo. Sabia que lá era muito frio, mas precisava ver se o seu corpo iria se adaptar aquelas temperaturas extremas.
Queria provar para si mesma que poderia sobreviver em qualquer ambiente inóspito. Só que dessa vez ninguém iria segui-lá mundo afora, pois em baixas temperaturas pessoas preferiam a reclusão de seus lares aquecidos com aquele aroma de chocolate quente ao invés de uma embarcação cheia de piratas e marinheiros de primeira viagem.

