Ágata estava muito empolgada para fazer aquela viagem ao Polo Ártico. Tinha alugado um navio com todos os acessórios necessários para aquela travessia em alto mar. Mas antes disso, passou em uma loja para comprar roupas adequadas às baixas temperaturas.
Ficou muito admirada com o valor daqueles casacos e botas térmicas, mas como quase não gostava de gastar o seu dinheiro com roupas novas, preferiu investi-lo naquelas vestimentas e depois doar para quem precisasse. Ágata sempre manteve essa filosofia de vida. Usando apenas o necessário para o seu desenvolvimento pessoal.
Acreditava que as pessoas tinham que usar mais roupas de brechós, por exemplo, pois isso gerava um ambiente mais susténtavel economicamente para o mundo.
Ágata também teve que contratar uma pessoa especializada em fazer aquele tipo de viagem até o Polo Ártico. Acabou contratando uma garota desapegada igual à ela. Que tinha uma vasta experiência em velejar por aqueles lugares inóspitos na companhia de um cachorro do Cáucaso bem simpático.
Seu nome era Berenice. Tinha por volta de 34 anos de idade mas aparentava ser bem mais nova do que a ocasião permitia. Mas Ágata tinha gostado daquela companhia logo de cara, e assim, resolveu pagar logo o valor integral do passeio de ida e volta. Berenice quase não pôde acreditar naquela soma de dinheiro toda que estava vendo bem em sua frente. Acho até que ela nunca tinha visto tanto dinheiro assim em sua vida. Pois os aventureiros pagavam tudo no cartão de crédito, parcelado em quantas vezes fosse necessário, alegando que gostavam de parcelas mensais suaves.
Berenice se empolgou logo de cara e acabou à levando pelas costas do Canadá, Groenlândia, Noruega e Islândia também. Ágata até conseguiu ver alguns ursos polares no caminho em busca de algum lugar seguro para os seus filhotes recém nascidos.
Ágata tirou diversas fotos com as cameras de Berenice que estavam no barco de velejo e aproveitou para aprender tudo o que estava ao seu alcance ao longo do caminho. Aprendeu a ir de acordo com a direção do vento. Pois de nada adiantava remar contra a maré. O mar tinha que permitir que Ágata completasse aquela viagem. E ela entendeu isso rapidamente.
Berenice logo lhe mostrou a sua coleção particular de livros em sua pequena biblioteca no veleiro. Mas Ágata não se interessou por aquilo. Foi até muito respeitosa e educada, mas ela queria mesmo era aprender tudo o que pudesse com aquela velejadora do Ártico. Ágata notou logo de cara como Berenice tinha muito agilidade para mudar à direção de seu veleiro quando o vento não estava ajudando e isso à fez se tornar uma exímia velejadora também.
Ágata sempre perguntava sobre todas aquelas informações que vinham pelo computador à bordo do veleiro. Via quando um navio cargueiro estava se aproximando com aquele radar sempre fazendo a varredura nos mares. E assim, aos poucos, ia decifrando quando um iceberg ou barco passava à algum quilômetros de distância daquela tripulação amadora.
Berenice lhe explicava tudo. E nos momentos livres se perguntava se aquela mulher também ansiava em ser uma velejadora do mundo.
Ágata não dizia absolutamente nada sobre aquilo. Preferia guardar segredo. Achava que aquilo não dizia respeito à mais ninguém. Mas sempre tratava Berenice com muita doçura. Porém, na volta da viagem, aquela resposta já estava explícita para ambas às partes.
Berenice já tinha certeza sobre os próximos passos de sua companheira de viagem. E assim, na volta daquela aventura, Ágata já estava pensando em comprar um barco ou veleiro para atracar em algum cais do porto que aceitasse seu modesto barco.
Quando enfim atracaram na Espanha, Berenice lhe apresentou à um lindo barco computadorizado que também serviria de veleiro, caso não quisesse usar toda aquela tecnologia disponível, e assim, Ágata não pensou duas vezes e acabou fechando o negócio na moeda local ali mesmo.
Berenice ficou muito admirada com aquela atitude e começou a repassar em sua cabeça se tinha se esquecido de lhe ensinar algo de útil. Mas logo viu que aquela garota estava tão ou mais pronta que ela, para enfrentar as correntezas do mar que lhe sugavam para dentro novamente.
E assim, Berenice e Ágata se despediram ao final daquele pôr do sol, pois as duas já estavam traçando novas rotas para velejar no outro dia. Berenice queria ir para o Japão, enquanto Ágata queria conhecer o mar morto.
Ágata não sentia mais vontade de escrever sobre as suas novas experiências. Pois todos aqueles novos conhecimentos adquiridos, lhe preenchiam tanto, que ela simplesmente não queria registrá-los em diários de viagem. Queria guardá-los só para ela. Como se tivesse descoberto uma nova religião onde as pessoas eram conduzidas apenas por suas vontades.
Vontade essa, que poderia ser um pouco perigosa dependendo do trajeto à ser traçado pelos mapas e radares de bordo de qualquer veleiro disponível. Mas Ágata parecia não se importar com aquilo, pois aqueles que colocavam a sua vida à disposição dos mares, tinha a total confiança que algum dia aquele sonho, poderia muito bem ser apagado com ondas que somente Nazaré eram capazes de produzir.

