Ágata estava pensando em retornar para Portugal, para talvez, buscar algum asilo político, tendo em vista que os portugueses sempre foram seus seguidores fiéis. Sendo assim, finalmente decidiu vender o seu veleiro com tudo dentro. O comprador ou compradora, iria levar de lambuja, uma biblioteca com os mais variados ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura de épocas distintas.
A felizarda tinha sido uma singela francesa de Paris. As duas marcaram de se encontrar secretamente na França. Seu nome era Sophie e era muito simpática e gentil. Aceitou pagar tudo à vista sem pestanejar. Disse para Ágata que iria preservar tudo como tinha encontrado, mas iria adicionar alguns escritores franceses aquela biblioteca o quanto antes.
Na decorrência dos fatos, Ágata rumou para Portugal com aqueles documentos falsos de sempre. Aterrizou no Porto como de costume e já foi logo se informando das novidades na Livraria Lello. Viu na vitrine alguns novos escritores recém descobertos e tratou logo de comprar alguns livros e boxes exclusivos de seus favoritos para colocar em seu apartamento no Porto.
Chegando por lá, colocou as malas na sua sala de estar e já foi logo folheando aqueles livros que tinham cheiro de novos recém saídos das embalagens à vácuo. Depois de algum tempo se perdendo naquelas histórias, resolveu ligar para as suas amigas mais próximas para dizer que estava de volta a ativa. O que acabou gerando uma comoção nacional, pois ninguém sabia guardar segredo naquele país minúsculo. E assim, a notícia acabou indo parar nos jornais regionais.
Na manhã seguinte, a polícia já estava em sua porta batendo-a como se não fossem velhos amigos. Ágata acordou sobressaltada com aquele estrondo e foi ver logo o que era. Abriu a porta e se deparou com um mandato de prisão onde ela teria que cumprir em Portugal por causa de tudo o que tinha feito no exterior.
O policial alegou que ela estava sendo presa por ter matado o presidente da Rússia e dos Estados Unidos, além é claro, de ter incitado o Anarquismo por onde quer que os seus escritos tenham passado, com ondas de manifestação em diversos países que tenham traduzido os seus escritos, contos, crônicas e artigos de jornais também.
Ágata se olhou por uma última vez no espelho e pegou imediatamente sua mala que ainda não estava desfeita e assim, se dirigiu ao corredor de seu apartamento com um monte de policias em seu encalço para se certificarem da apreensão.
Os portugueses ficaram muito revoltados por estarem prendendo uma ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura. E assim, resolveram fazer diversas passeatas pelo país como sinal de indignação. Gerando uma comoção nacional e internacional também. Pois os jornais internacionais noticiaram a prisão de Ágata em suas capas matinais. Mostrando ela com cabelos azuis sempre desgrenhados e logo atrás, os policiais lhe empurrando para dentro daquele camburão mal cheiroso.
Os juízes daquele caso acabaram passando por uma enorme pressão em suas vidas particulares e alguns tiveram até que reforçar sua segurança particular. Mas o caso foi julgado em algumas semanas e o decreto final foi que Ágata passaria à prisão domiciliar devido a sua esquizofrênia, que seria muito mal tratada se ela fosse ficar em alguma prisão sem os cuidados paliativos necessários para o controle da doença.
Os portugueses vibraram com aquela sentença como se o país tivesse ganhado uma copa do mundo. Com telões espalhados por toda Portugal, para que o povo pudesse acompanhar o julgamento do século.
Ao término da sentença, Ágata voltou ao seu apartamento sendo escoltada por seguranças e policiais que ficavam de plantão na rua lá embaixo para evitar que ela pudesse receber visitas inadequadas. Mas como ela sempre tinha sido uma nômade digital, Ágata acabou recebendo diversas ligações para que ela voltasse a escrever nos principais jornais de Portugal e do mundo. E assim, o fez.
Escrevia artigos sobre Política, Econômia, Cultura e Arte para os jornais locais e internacionais também. E até levou um susto quando viu sua conta bancária lotada de dinheiro novamente. Secretamente passou a editar os jornais de Portugal novamente. E agora até dava aulas nas Universidades que tinha pedido demissão lá atrás. Realizava diversas conferências mundiais em seu apartamento. Dando palestras e aulas sobre geopolítica mundial.
O tempo que tinha ficado presa?
Isso para Ágata não importava pois o que ela mais queria era ser uma intelectual de respeito. E por mais que estivesse presa em seu apartamento por um tempo indeterminado, sua mente estava livre para poder criar, discursar e escutar outras mentes que pensavam como o mundo deveria ser em um futuro próximo e ela gostava de fazer parte daquela nova civilização livre de ditadores e fascistas novamente.

