Uma nova utopia digital que nos leva a sabedoria

Pela segunda vez consecutiva, Ágata teve que desvaziar os livros que entupiam seu apartamento novamente. Só que agora a tarefa era muito mais difícil, porque dessa vez, ninguém se interessava por aqueles livros pouco conhecidos do grande público. E assim, ela mesma providenciou de colocá-los na frente da portaria de seu prédio, para que os turistas pudessem pegar e descobrir neles grandes mundos ainda desconhecidos.

E para a sua surpresa, na hora do almoço, quase não tinha mais nenhum livro nas calçadas ladrilhadas do Porto. Ágata de sua sacada ia vendo alguns turistas parando na entrada de seu prédio e olhavam para os lados com um certo receio de pegar algo totalmente de graça, em praça pública. Mas no fim, saiam todos satisfeitos com o presente dado por alguém que desconheciam de suas vidas.

Ágata gostava da experiência de preencher aquelas estantes de madeira com livros novos. E assim que podia dava os que lia e preenchia o espaço vazio com os que ainda não tinha lido. Porém, ultimamente ela estava se interessando muito por filosofia. Gostava de ver como os gregos, os medievais e modernos pensavam a existência humana, a divina e o surgimento da ciência como método científico.

Refletia muito sobre a sua época e o advento da inteligência artificial na contemporaneidade. E assim, começou a fazer perguntas sobre a hipótese de aquilo estar beneficiando ou prejudicando a sociedade em sí. Pois antigamente os filósofos se preocupavam muito com o desenvolvimento de seus pensamentos; porém, agora, parecia que as pessoas estavam mais preocupadas com os seus engajamentos e números de seguidores nas redes sociais e nada mais. Prejudicando assim, sua própria evolução como ser humano. Fato esse que não acontecia antigamente. Porque nesse período da história, os estudiosos se preocupavam muito com as questões morais e éticas que faziam com que a ciência avançasse.

Enquanto na contemporaneidade, as pessoas preferiam seguir os influencers como se eles fossem os novos profetas da terra, comprando o que eles usavam e até se alimentando com o tipo de comida que eles comiam, pois assim, conseguiam estar dentro dos padrões impostos pela nova sociedade moderna.

Porém, isso acabava gerando um vazio existêncial muito grande, porque rapidamente o que estava na moda ontem, já não está mais no dia de hoje. E assim, nosso cérebro acaba sendo massacrado com informações totalmente irrelevantes até o final do dia. Ou seja, não estou dizendo que a tecnologia é algo totalmente prejudicial para o ser humano, mas as escolas e o núcleo familiar precisam educar essa nova geração consumista a nutrir seus espíritos com conhecimento de qualidade com pessoas mais bem qualificadas do que simplesmente influencers de maquiagem.

Aos poucos, Ágata foi escrevendo esses pequenos artigos nos jornais locais de Portugal e imediamente outros jornalistas e filósofos também começaram a fazer o mesmo ao redor do planeta, para que esse fluxo de desinformação e fake news parasse de nutrir a mente da sociedade desavizada e sem filtro.

Pois uma enxurrada de artigos invadiu as redes sociais alertando ao público que à consome, para que tivessem mais cuidado no consumo, pois o vício na redes prejudicava o cérebro de maneiras ainda pouco estudadas à longo prazo.

Alguns filósofos alegavam que a sociedade agora não se preocupava mais com o avanço da ciência como antigamente e muito menos com a evolução do desenvolvimento cerebral. E assim, logo se entregavam nas mãos dos influencers para que eles servissem de guia para as suas vidas. Mas o grande problema da contemporaneidade – em suas visões de mundo – era que as vidas apresentadas nas redes sociais não eram reais.

Como consequência, a sociedade começou a adotar novas medidas para nutrir seus espíritos. Pararam de seguir os influencers que eram vazios e sem conteúdo algum e começaram a seguir os escritores, jornalistas, historiadores, filósofos, economistas e artistas.

Os governos do mundo passaram a colocar em suas pautas políticas o ensino da educação digital obrigatória nas escolas, universidades e em cursos livres para que a sociedade soubesse mexer em suas redes sociais com mais sabedoria. E assim, automaticamente as redes sociais abriram mais espaços para os especialistas de plantão. E o que antes era consumido aos montes, agora, era nutrido com mais equilibrio do espírito. Passando a ter uma regulamentação mais forte e eficaz do governo em sí.

Um dos exemplos era o uso em demazia dessas redes, onde os próprios aplicativos tiveram que adotar alarmes de precaução de uso para aqueles que estavam mais do que uma hora usando-os.

Depois dessas medidas, Ágata começou a perceber as mudanças em seu círculo social, pois antes todos ficavam em cafés e restaurantes olhando para as suas redes sociais como se aquilo fosse mudar suas vidas para sempre. E esqueciam de conversar com os seus pares que ficavam entretidos com aqueles telemóveis sem espírito. E agora, os seus pares deixavam seus celulares na entrada daqueles estabelecimentos, para que pudessem curtir uma boa conversa sem hora para que recebessem um alerta que os fizessem parar de viver.


Deixe um comentário