Eram tempos sombrios novamente. Por alguma razão, a extrema direita tinha tomado o poder em diversos países, inclusive em Portugal. Agora não era mais permitido a livre circulação das pessoas. As alfândegas dos aeroportos estavam com muita raiva em seus olhos. Perguntavam sobre tudo. De onde vinha, por quanto tempo pretendia ficar e se tinha vistos de trabalho ou residência. Caso não tivessem nenhum deles era imeditamante deportado sem pena nenhuma.
Os imigrantes regularizados em Portugal tinham que imitar os sotaques regionais para passarem desapercebidos pelo crivo policial. Mas mesmo assim, viviam com o terrível medo por perto. Pois a qualquer momento poderiam ser deportados sem qualquer motivo aparente. As ruas foram ficando cada vez mais vazias e quase não se via mais aquele fluxo prazeroso de turistas falando abertamente suas línguas maternas. Porque agora o medo imperava.
Ágata não conseguia mais identificar a origem das pessoas, pois agora os próprios imigrantes ilegais se passavam por outras pessoas, mentindo até sobre a sua história de vida para que assim, pudessem preservar suas vidas naquelas lugares históricos.
Agora o lema era Portugal para os portugueses e isso era extremamente triste. Pois não se via mais o brilho no olhar daqueles que não eram dali. Poder visitar um lugar ou até mesmo morar nele era o lema dos viajantes sem teto e isso tinha sido tirado dos mochileiros e ciganos de plantão. O turismo foi quase que extinto, pois as pessoas ficavam com medo de transitar em aeroportos e de acabarem sendo maltratadas por autoridades que desconfiavam até de suas próprias sombras.
Ágata assim acabou perdendo o encanto de passear pelo Porto e por Lisboa, lugares que antes, estavam repletos de culturas distintas que se misturavam com o comércio local elevando assim, os padrões europeus para sempre.
Mas nem tudo estava perdido, pois diversos intelectuais se uniram mais um vez, para combater essa política extremista em seus respectivos países. E Ágata sabia da força que ela tinha para combater políticas retrogradas como aquelas. E assim, começou a escrever colunas em diversos jornais de Portugal, mostrando todas as atrocidades que os policias de plantão cometiam com pessoas estrangeiras. Onde muitas acabavam sendo deportadas no meio de seus expedientes de trabalho, sem qualquer garantia de seus direitos humanos de volta.
Muitos chegavam em seus países como se fossem prisioneiros de guerra, com correntes nos pés e algemas nas mãos. Mesmo elas alegando que não tinham feito nada de errado nos países estrangeiros, pois muitos conseguiram comprovar nos tribunais internacionais, que estavam totalmente legalizados com os seus vistos.
Como consequência daqueles atos antidemocráticos, os juízes decretaram que todos os estrangeiros passassem a ter cidadania portuguesa, para que assim, não recebessem uma alta indenização em euros pelo erro cometido.
Os estrangeiros não tiveram escolha. Optaram pelo acordo, pois sabiam que agora, com o cartão cidadão em mãos, poderiam circular por muitos mais países que antes. Mas mesmo assim, foram fiéis a bandeira de Portugal e voltaram para a terra lusa como mártires. Por acreditarem que os países tinham que legislar novas leis que dessem aos seus cidadãos e não cidadãos à livre circulação, para que assim, pudessem depositar suas almas em alguma nação que sentiam mais ligação que as suas próprias cidades natais.

