Aquele dia no calendário tinha sempre um novo gosto para Ágata. Ela tinha visto recentemente, uma escritora discursar diante do presidente da república portuguesa, enfatizando que não havia português mais puro que outro. Pois na raiz da formação daquele país, houve-se uma mistura de raças que era quase que impossível discernir quem era de origem totalmente européia daqueles que poderiam ser latinos ou até mesmo africanos.
É claro que os políticos que eram considerados mais à extrema direita se contorceram em sua cadeiras diante daquela fala que era repercutida no momento em que os militares desfilavam em praça pública. Dava a entender que eles não queriam mais ouvir aquelas baboseiras que saiam da boca de uma pessoa possívelmente envolvida com o comunismo ou socialismo. Mas não teve jeito, pois o presidente português acabou dando voz para aquela escritora, que simplesmente devastou as opiniões fascistas que estavam adentrando a sociedade portuguesa como se uma raça pura pudesse se sentir no livre arbítrio, de governar aquele país que se miscigenou ao longo dos séculos, trazendo para a sua mão de obra os escravos que mal tinham direito por suas vidas e por seu trabalho.
Ao final do discurso, a tal escritora foi aplaudida incessantemente por aquela multidão que esperava escutar aquelas palavras de consolo mediante a raiva que governava a maioria dos portugueses que simplesmente achavam que os imigrantes eram pessoas desprezíveis que queriam roubar suas oportunidades de trabalho. O que não era verdade! Pois o ódio aos imigrantes vinha de longe. Vinha dos avós que não gostavam dos negros e nem de gente que não comungava com a crença ao cristianismo e por aí ia.
Ágata amou aquele discurso e assim, quando alguém era destratado em plena praça pública por ser um simples imigrante querendo melhores oportunidades em sua vida, o preconceito era logo colocado na cadeia com sentença marcada e tudo. E assim, as manifestações públicas faziam questão de mostrar o rosto do tal criminoso em plena assembleia constituinte.
Como consequência, a família do criminoso também ficava conhecida em toda a aldeia por aqueles atos dignos de menosprezo. E assim, tinham que ser exilados em outros países para não serem mais reconhecidos em plena praça pública.
A sociedade melhorou muito desde aquele discurso potente da tal escritora famosa diante daqueles parlamentares portugueses. O povo ficou com medo de expressar sua raiva diante daqueles imigrantes ilegais que passaram a ter mais direitos do que os próprios portugueses.
O salário mínimo aumentou exponencialmente trazendo mais conforto para todos os envolvidos que não precisavam mais ir para a França para buscar melhores condições financeiras. E assim, alguns portugueses até voltaram do exterior com novos sonhos de refazerem suas vidas em suas próprias cidades natais.
A economia cresceu e com mais instrução na educação, os portugueses passaram a respeitar outras culturas que estavam entranhadas nas peles de todos aqueles imigrantes que apareciam em aeroportos pensando que tinham encontrado finalmente à tão sonhada terra prometida. Mas que depois de alguns meses, em solo português, descobriam um gosto bem amargo em seus lábios que pediam mais aceitação e respeito por ser quem realmente eram. Apenas imigrantes que queriam trabalhar e construir novas vidas que foram negadas em suas pátrias corruptas de dignidade e bem estar social.

