O voo para a morte

Ágata tinha visto no noticiário local a queda daquele avião na Índia, matando 290 pessoas, sendo que 7 eram portugueses que estavam indo trabalhar em Londres, na Inglaterra. Uma pessoa sobreviveu. Saiu caminhando pelas ruas preocupado com o seu irmão que estava sentado em outra fileira no avião.

A imagem era muito impactante. O avião mal conseguiu levantar voo e não conseguiu a sustentação necessária para voar entre as nuvens indo em direção à um prédio local.

Mas o que deixou Ágata impactada não foi aquele acidente e sim, aquele homem que saiu andando pelas ruas da Índia dizendo que estava naquele voo. Ele começou a mostrar a quem quisesse o seu cartão de embarque para comprovar que não era louco da cabeça. Todos acreditaram na versão do homem, pois ele estava todo sujo de sangue fresco.

Como retomamos nossas vidas depois de um trauma como aquele?

O que seria daquele homem que não conseguia em hipótese nenhuma encontrar o seu irmão com vida?

Por que Deus tinha deixado somente um sobrevivente?

Algumas perguntas não tinham respostas imediatas. Mas Ágata logo se prontificou a servir como voluntária para fazer a evacuação do local. Ela até conseguiu encontrar os corpos dos sete portugueses e com a ajuda da polícia indiana conseguiu identificá-los com testes tecnológicos. E assim, retornou para Portugal trazendo seus compatriotas em caixões com honras de estado.

O difícil foi notificar a família dos envolvidos que fizeram enterros restritos sem que houvesse nenhuma intervenção da imprensa sensacionalista. Mas é claro, que o presidente de Portugal compareceu a todas as cerimônias reservadas e fez até discursos reafirmando que o sangue de todo o português pulsava em uma nação inteira que estava em completo luto, por apenas 7 dias, é claro.

Os Estados Unidos investigaram a caixa preta do avião e descobriram que tanto o piloto como o co-piloto, disseram pelos seus rádios a tão temida palavra Mayday, minutos depois do início do voo, indicando que foi uma falha mecânica e não técnica.

Depois de um certo tempo, a Índia acabou fazendo um monumento para honrar a vida daquelas pessoas. E muitos iam lá para colocar buquês de flores, principalmente quando tinha alguma recepção de outros governos de estado.

Portugal veio a decretar sete dias de luto, mediante aquela catástrofe na Índia. Mas tivemos uma comoção geral em todo o País, pois nos cafés todos começaram a pensar que poderia ter acontecido com qualquer um. Pois a maioria dos portugueses tinham o hábito de sair do país para buscar melhores condições de vida em outros. E assim, de uma hora para outra ninguém mais passou a confiar em voos de avião e a empresas começaram a fazer propaganda em telejornais reafirmando o contrário.

Os cruzeiros tiveram um aumento bem exponencial, e assim, as pessoas começaram a preferir cruzar o atlântico de navio ao invés de avião, dizendo que era melhor em termos sustentáveis e ecológicos também.

Mas depois de um certo tempo, as pessoas simplesmente esqueceram aquele incidente na Índia e tudo voltou ao normal. As empresas de aviação voltaram a vender passagens aos montes enquanto que o fluxo nos aeroportos se estabilizou da mesma forma caótica de sempre.

As notícias eram engraçadas… – pensava Ágata – No mesmo dia do incidente do avião na Índia, também era o dia em que Portugal assinava nos Mosteiro dos Jerónimos, o Tratado de Adesão as comunidades Européias, fazendo uma transformação profunda na economia e na sociedade portuguesa. Pois antes da adesão, o salário mínimo variava entre apenas 299 euros até no máximo 443 euros; e depois do pacto de sangue, passou a ser de 800 euros aproximadamente e escolaridade obrigatória de até os 18 anos de idade pelo menos.

Mas ninguém se importava com isso, pois os imigrantes ainda estavam em terras lusas tirando o trabalho dos ditos portugueses mais puros. Enquanto os nascidos na terra do Cabral, optavam por ir viver em outros países que pagavam melhor, deixando assim, suas terras nas mãos daqueles que mereciam mais o título de cidadãos ilustres.


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