Edgar: o diplomata que renunciou ao Brasil

Edgar pela manhã não queria ligar o seu notebook para ver o resultado daquele concurso que tinha feito para a diplomacia do Brasil. Mas acabou sofrendo a pressão habitual de seus pais, e assim, resolveu ligá-lo e imediatamente, se deparou com a lista dos poucos aprovados no site do governo federal.

Para a sua grande surpresa, daquela vez ele tinha conseguido passar para trabalhar na Inglaterra como diplomata. Ele fechou o seu MacBook e instantaneamente começou a pensar em quais roupas iria levar para viver naquele país frio, como se fosse a coisa mais natural do mundo passar naquela seletiva super desgastante em várias etapas.

No café da manhã, sua irmã e seus pais queriam logo saber qual tinha sido o resultado final daquele concurso e ele logo contou que estava de mudança para a Inglaterra pois tinha passado em oitavo lugar. Sua família comemorou bastante aquele feito de seu primogênito e imediatamente eles se reuniram no quarto de Edgar para ajudá-lo a escolher as roupas mais adequadas para aquele novo cargo.

Ternos, casacos, tênis, sapatos, pijamas e pantufas eram colocadas dentro daquelas sete malas que o governo brasileiro iria pagar como carga extra sem nenhum custo adicional para o novo integrante da diplomacia brasileira no Reino Unido. Edgar se sentia muito aliviado, pois era o último integrante da família a conseguir um bom emprego depois que sua irmã Jaqueline, já estava trabalhando há dois anos no hospital, como médica geral.

Era como se estivesse se livrando de toda a pressão familiar. Pois agora se veria livre deles de uma vez por todas. Não que ele não gostasse de sua família. Mas seus pais lhe controlavam muito e isso era extremamente ruim quando um homem já tinha 35 anos.

Ele nunca poderia imaginar, que todos aqueles quadros mostrando os pontos turísticos de Londres, que enfeitavam o seu quarto, pudessem fazer agora, parte de sua vida.

Sua mãe aproveitou a oportunidade para falar com o prédio inteiro que o seu filho agora era diplomata. Suas amigas ficaram com uma inveja danada, mas Tânia não ligava. Pois ela também tinha sofrido muita pressão de suas supostas amigas, lhe dizendo como poderia criar um filho que não queria trabalhar.

Estevão – o pai de Edgar – sofria a mesma pressão no trabalho, vendo seus colegas dizerem para ele que seus filhos eram grandes empreeendedores e influencers da bolsa de valores de Nova York, enquanto o seu próprio filho, só se preocupava em estudar outros idiomas, para dizer que queria ser um poliglota e nada mais além disso.

Nas últimas semanas antes daquela grande mudança de vida, Edgar era cumprimentado por todos na rua. Pois somente agora ele era notado. Porque antes da aprovação todos diziam que ele era um encostado e que só sabia viver as custas de sua família endinheirada.

Mas agora tudo tinha mudado. Todos passaram a tratá-lo com muito mais respeito e admiração. Mas Edgar mal via a hora de se mudar para a Europa. Pois ele não gostava da maneira que as pessoas tratavam ao seu semelhante mediante ao cargo em que ele ou ela ocupavam na hierarquia social.

O dia da partida tinha chegado e Edgar resolveu só ir apenas com uma mala e uma mochila, dizendo à todos que iria comprar novas roupas quando chegasse a Londres. Ele de despediu de seus pais e de sua irmã e logo entrou no táxi sem olhar para trás.

Chegando no aeroporto, embarcou em um jatinho particular do governo brasileiro, sem passar por filas intermináveis no aeroporto. No jatinho tinha tudo o que se possa imaginar de comida e de bebida, porém, ninguém mais falava em português.

Aos poucos Edgar foi se esquecendo de sua língua materna e o inglês passou a ser a sua língua oficial. Chegando em Londres, viu o apartamento que iria ficar e imeditamente começou a trabalhar.

Passaram-se vários anos e Edgar já estava irreconhecível como pessoa. Já falava com o sotaque londrino habitual. Enquanto sua família nunca mais teve contato com ele.

Edgar se casou com uma britânica chamada Emily e teve quatro filhas com ela; Brigite, Eleonor, Sally e Lily. Sua nova família tinha acabado de se mudar para uma nova casa Tudor enorme. Com 10 quartos e 10 banheiros.

Edgar foi chamado para compor o parlamento britânico depois de ter passado com mérito pelo prova de cidadania britânica antes de ter casado com uma inglesa puro sangue. E ele agora estava pensando em aceitar o cargo por um partido de direita ao qual também tinha sido membro o Sir Winston Churchill.

No dia seguinte, Edgar pediu demissão do seu emprego de diplomata e entrou para o Parlamento Inglês em Londres. Aproveitando a oportunidade, disse para a embaixada do Brasil em Londres que iria renunciar a sua cidadania brasileira e que agora só queria ser inglês. Alegou também que estava farto de acompanhar os esquemas de corrupção da política brasileira, onde ninguém renunciava ao cargo, mesmo que a mídia social indicasse os culpados pelos atos.

Suas filhas tinham muita curiosidade de saber da origem tropical de seu pai, mas ele nunca dizia nada sobre ela. Sua esposa, Emily insistia com elas também, mas ele imeditamente desconversava dizendo que o Brasil jamais iria para frente e que a maioria das pessoas que moravam por lá, se por um acaso, tivessem condições financeiras de se mudar para um país mais desenvolvido economicamente, fariam isso sem pensar duas vezes. E por isso, não via razão de falar sobre os seus pais e muito menos de sua irmã.

O tempo passou e infelizmente a família de Edgar acabou morrendo em um acidente de carro no Brasil. Edgar foi notificado no Parlamento Britânico, mas ele preferiu continuar trabalhando. Ele acreditava que eles nunca tinham lhe dado o devido valor, e assim, preferiu não contar à sua nova família sobre o ocorrido. E assim, um novo dia acabou amanhecendo em Londres, onde aquele menino que queria ser apenas um poliglota, se transformou num bem sucedido político britânico. Que fez a proeza de reintroduzir o Reino Unido de volta à União Europeia, pois sabia que o isolamento não era o caminho para que um País fosse de fato independente.


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