O que seria refletido no fim da sua vida?

Pamela já morava há bastante tempo em Edimburgo, capital da Escócia. Seus pais insistiam em lhes dizer para morar em um outro lugar onde o mundo acontecia, mas ela preferia a sua qualidade de vida, onde ela ia trabalhar às dez horas da manhã e voltava às cinco da tarde. Em qual outro lugar isso aconteceria? Era exatamente essa a questão.

Herdeira do banco mundial, Pamela alegava que não queria viver igual aos americanos, que se pudessem, com toda a certeza, iriam trabalhar até em dias santos para louvar o seu imbatível capitalismo. Já na europa, isso era inteiramente diferente, pois por aqui, a estrutura governamental priorizava o lazer e o tempo passado em família. Muito diferente de Nova York por exemplo, que ensinava aos estudiosos da bolsa de valores que o lucro e a perda não tinham hora para acontecer.

Pamela gostava de ter hobbies. Ela pintava, desenhava e escrevia suas poesias em diversas línguas e acabava colocando-as em seu site pessoal que quase ninguém no mundo se sentia motivado à lê-las. Mas mesmo assim, ela se mantinha motivada à nunca parar de ser criativa com a sua ociosidade que Edimburgo lhe proporcionava. Pois ela amava aquela cidade onde tudo começava cedo demais e terminava antes do previsto.

Em Edimburgo quase todos os dias estavam nublados e frios, mas mesmo assim, ela gostava de frequentar aqueles pubs aconchegantes com luzes amarelas que deixavam o ambiente mais quente e acolhedor também. As vezes era difícil entender o que algumas pessoas falavam, mas depois de algum esforço, você conseguia entender perfeitamente.

Quase todos os dias, Pamela falava com o seus pais sobre a bolsa de valores, pois ela preferia trabalhar remotamente e dificilmente aparecia em Nova York ou em Washington D.C. para vê-los. Mas quando saia de férias ela passava alguns dias no apartamento deles em Manhattan. Eles aproveitavam a grande oportunidade e diziam para o conselho do Banco Mundial, que ficava em Washington D.C. que Pamela iria herdar todas as responsabilidades deles, quando eles viessem a falecer. Mas Pamela não se sentia preparada para ser CEO do Banco Mundial, pois sempre achava que precisava acumular mais experiência. Por isso, sempre buscava especializações em sua área nas férias de trabalho. Mas nunca achava que eram o suficiente.

Seus pais lhe diziam que com o tempo ela iria acabar pegando o jeito. E assim, ela resolveu repentinamente se mudar para Nova York de forma definitiva. Vendeu o seu apartamento em Edimburgo e se despediu de seus amigos que nunca mais veria novamente por causa de seu trabalho excruciante.

Porém, já nas primeiras semanas em Nova York, Pamela já soube que não iria dar conta daquela carga de trabalho americanizada, onde seus superiores lhe pediam relatórios bem detalhados aos finais de semana, deixando-a à beira do colapso mental. Pois nos Estados Unidos, as pessoas estavam acostumadas a trabalhar sem parar; bem diferente dos padrões europeus de bem estar físicos e mentais.

Pamela conseguiu encaixar em sua agenda já apertada, uma hora por semana com uma terapeuta que também trabalhava aos finais de semana – o que não era surpresa – e assim, aos poucos foi aumentando a sua carga de trabalho até que em alguns meses, já estava fazendo aquilo em modo automático, sem pensar e muito menos sentir as consequências daquilo em sua vida particular.

Quando se adaptou a nova rotina de trabalho, dispensou os cuidados de sua terapeuta e assim, aos poucos, foi perdendo o prazer pelo lazer e os hobbies que tinha alegando que aquilo só servia para passar o tempo da ociosidade.

Seus pais ficaram super felizes com o amadurecimento de sua única filha, e assim, resolveram se aposentar definitivamente, deixando-a no cargo deles. Pamela abraçou aquela oportunidade e passou a não tirar mais férias. Pois preferia estar sempre pronta à estudar os gráficos da bolsa de valores, para ver se algum país iria entrar em recessão econômica e assim, alertá-los quando a castástrofe pudesse aparecer de maneira inesperada.

Pamela se mudou para Washington D.C. onde era a sede do Banco Mundial, e assim, a cada quatro anos via bem de perto a dança das cadeiras para ver quem iria comandar a nação mais poderosa do mundo. Fazia acordos às escondidas, sempre pensando no bem estar da bolsa de valores, que às vezes, diminuía os valores das ações de alguma determinada empresa de tecnologia que pudesse estar passando por alguma crise institucional.

Mas a maior crise que Pamela presenciou foi a dela mesma, onde depois de ter ficado dez anos sem descansar acabou sendo diagnosticada com câncer no pâncreas, mesmo sendo vegetariana e não comendo nenhum tipo de gordura. Os médicos lhe disseram para seguir o tratamento à risca. Mas como sempre tinha sido muito rebelde, preferiu sair de férias com a sua única família.

Seus pais passaram ótimos momentos com ela, mas o mais difícil foi vê-la perdendo os cabelos e o peso também. Suas últimas palavras foram de arrependimento, pois se ela não tivesse seguido o sonho dos pais, talvez ainda estivesse viva dedicando o seu tempo com os hobbies que inventava dentro de casa, mas por outro lado, deixaria de ter vivido ao extremo para alcançar o bem estar que somente aqueles que trabalham com o que gostam sentem e afirmam em dizer que preferiam ser lembrados como artistas e artífices de seu próprio tempo.


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