Beatriz tinha comprado todos os ingressos para assistir os shows do Oasis na turnê mundial de regresso de 2025. Tudo tinha sido uma fortuna mas ela não se importava, pois sua família era extremamente rica e nada melhor do que gastar dinheiro com algo que iria mudar sua vida para sempre.
A sensação de se estar nesses shows era indescritível. Parecia que as pessoas se conheciam há bastante tempo, pois todos saiam de casa com os seus uniformes de três listras de guerra da adidas, mostrando que a moda nunca tinha saido de moda. Só estavam esperando os seus líderes Liam Gallagher e Noel Gallagher se reconciliarem para andarem do mesmo jeito arrogante que eles.
Novas lojas da adidas eram abertas onde a banda passava, e assim, as filas em torno delas automaticamente ficavam enormes. Como se as pessoas quisessem adquirir um pouco do status de celebridade da banda, comprando tênis, casacos, calças e camisas que pudessem ter o mesmo ego que o da banda.
Beatriz comprou tudo o que pôde e as pessoas que trabalhavam nas lojas até acharam aquela atitude um pouco estranha, pois tinha sido a primeira vez que alguém tinha gastado 2 mil libras em um só dia; e ainda por cima em dinheiro vivo.
Alguns atendentes cochicharam sobre isso. Mas depois de um certo tempo logo viram que aquela garota estava acompanhada de diversos seguranças que talvez indicassem que ela era importante no quesito do dinheiro. E assim, decidiram seguir com suas vidas monótonas e sem sentido algum, fazendo parte de mais uma engrenagem no sistema capitalista.
Beatriz tinha ficado na maior parte dos shows da turnê em hóteis cinco estrelas. Assim, não precisava se incomodar com nada, muito menos com a sua locomoção até os shows pois sua família tinha providenciado tudo. Desde hóteis até aos motoristas particulares que se revezavam em turnos quando o show acabava fora do horário determinado.
Mas quando ela via a multidão lá embaixo pulando dava vontade de estar lá embaixo junto com toda aquela massa, respirando o mesmo ar e a mesma música também. Mas sua família, sempre tentava lhe destacar dos demais por sua fama e dinheiro e isso as vezes era bastante irritante.
Já as letras daquelas músicas tinham-na lhe acompanhado por toda a vida. Quando ela tinha suas desilusões amorosas ou quem sabe até brigado com alguém na Universidade por não acreditarem que aquela banda era a maior do planeta, depois dos Beatles é claro.
Quem andava pela Inglaterra via muitas pessoas vestidas como Liam Gallagher. Vestindo tênis baixo da adidas, bermuda, parka e seus óculos habituais, para aqueles que não queriam encarar o sol.
Depois dos shows, era como se todos tivesem retornado aos anos 90. Onde ninguém tinha celulares ou redes sociais que pudessem roubar nossas atenções daquilo que estava acontecendo bem em cima do palco. O ressurgimento do Rock para aqueles que só sabiam escutar música contemporânea de péssima qualidade.
Era isso! O Rock estava de volta a vida daquelas pessoas. E imediatamente muitos recomeçaram a estudar aquelas letras cheias de significados ocultos. Mas Beatriz não precisava fazer nada disso. Pois sempre tinha sido fluente em inglês. Por ter estudado em uma escola bilíngue. E além do mais, já sabia de cor todas aquelas letras e até perseguia a carreira solo dos dois irmãos de Manchester mundo afora.
Mas mesmo assim, sua vida de influencer nas redes sociais não estava dando muito certo, porque por mais que mostrasse todo o seu dia a dia na internet, quase não conseguia atrair mais seguidores para as suas redes. E assim, depois daquela turnê do Oasis, ela resolveu desistir daquela carreira supérflua e sem sentido algum, vindo à deletar todas as suas contas sociais.
Para desespero de sua família decidiu começar a trabalhar como garçonete em um pub de Londres. Atendendo os mais diversos sotaques da língua inglesa, e melhorando ainda mais a sua fluência no idioma.
Como consequência daquele ato impensado. Sua família à ameaçou dizendo-a que iria cortar a sua mesada mensal, caso ela não voltasse para o Brasil. Pois ninguém entendia que ela queria conseguir as coisas pelo seu próprio esforço a partir daquele momento.
Mas Beatriz se manteve firme em sua decisão – Pois ela queria muito ser totalmente independente de sua família – e nos primeiros meses ela viu a sua luz ser cortada por não ter dinheiro para pagá-la. Ficou sem tomar banho, mas depois de um certo tempo, ela conseguiu dobrar de turno para conseguir se manter naquele albergue de Londres.
Até que a gerente do Pub à promoveu como sua assistente particular, e assim, ela conseguiu se manter em Londres por mais algumas temporadas. Foi penoso, mas muito recompensador em planejar os seus gastos diários, comendo no Pub para economizar. E assim, foi aprendendo a viver enquanto a vida ia lhe guiando.
Depois de um certo tempo, ela conseguiu abrir o seu próprio Pub, onde tinha fotos do Oasis por toda à parte. Ao mesmo tempo em que, foi vendo a sua conta bancária aumentar exponencialmente até que chegou em um ponto em que ela começou a comprar diversos Pubs espalhados pela Inglaterra, apelidando-os de Oasis Pub.
Quando ela se deu conta, já tinha uma franquia. Onde as pessoas consumiam muita cerveja e pratos típicos também, como por exemplo, peixe frito e batatas fritas. Todo mundo saia de seus trabalhos e iam para os seus Pubs aproveitar uma boa companhia, escutando ao fundo sempre as músicas do Oasis que possibilitavam a realização de qualquer sonho que estivesse ao alcance da vontade de cada pessoa.
Porém, para entrar nesses Pubs não era permitido o uso de celulares. E assim, houve uma revolução enorme na Inglaterra, pois as pessoas perceberam que uma boa companhia era a melhor coisa que poderia existir no mundo.
Os celulares eram entregues na recepção dos Pubs e guardados com todo o cuidado, mas muitos na saída se esqueciam deles e até diziam que não precisavam mais deles.
Beatriz tinha percebido a partir dos shows do Oasis, que o mundo virtual estava deixando a humanidade sem alma. E que a única maneira para que o planeta pudesse ter cor novamente era privando as pessoas de usarem seus celulares no momento em que ficavam diante de seus amigos. E isso acabou gerando uma revolução enorme na Inglaterra, pois a cada dia as filas para entrar em seus Pubs aumentava.
Como consequência, os ingleses não queriam mais usar suas redes sociais. Esqueciam seus celulares em casa desligados. Iam para o trabalho, produziam e depois iam para os Pubs jogar conversa fora e dar risadas sobre aquilo que não tinham conseguido fazer naquele dia. E depois voltavam para as suas famílias cheios de ternura e amor que somente uma pessoa desconectada do mundo virtual era capaz de fazer rotineiramente, deixando como legado para as futuras gerações, viver apenas a sua vida real.