– Estás satisfeita?… – pergunta Priscila, sua chefe, de maneira totalmente irritada, enquanto Ágata lhe ajuda a retirar suas coisas do escritório – Nunca pensei que você fosse capaz de puxar o meu tapete. Logo eu que te tratei como se fosse uma filha.
– Mas eu não puxei o seu tapete! – rebate Ágata, percebendo que era melhor ela ficar calada, pois tudo que disesse seria pior de se compreeender com raiva no coração – Foram os acionistas do jornal que me ofereceram a vaga. E eu como sou muito ingênua, nunca poderia imaginar que seria para ocupar o seu cargo. Pois senão, eu mesma teria negado na mesma hora. Não achas?
– Não sei mais o que dizer… E levo-me a crer que agora irei desconfiar até da minha própria sombra também. E acho que daqui para a frente você deveria fazer o mesmo que eu.
Priscila se despediu de seus funcionários com lágrimas em seus olhos. Foi um momento muito difícil de se assistir. Ágata ficou como vilã da história toda, mas ela não se importou. Descarregou tudo em seu trabalho e lá no fundo, ela sabia que seus colegas de trabalho também iriam fazer isso.
Não precisa nem dizer que Ágata começou a sofrer retaliação quase que imediatamente, com crimes de xenofobia e racismo, pois alguns colegas de trabalho não aceitavam as ordens de uma brasileira naturalizada portuguesa. Mas mais uma vez, ela não se importou e resolveu seguir em frente. Seus colegas continuavam atrasando suas matérias de propósito para colocar nos jornais. E o que ela fez? Bem… Ágata resolveu escrever ela mesma as matérias sobre cada assunto e colocar nos jornais com os pseudônimos devidos. Não precisa nem dizer que isso causou um alvoroço tremendo na redação do jornal, levando-o como consequência ao maior número de demissões que um só jornal já viu em toda a sua criaçao e desenvolvimento pessoal.
Quando a nova chefe da redação se deu conta, estava quase sem nenhum jornalista comprometido com o seu ofício. E o que ela fez?… Bem… resolveu começar a contratar estagiários que ainda estavam cursando a universidade, pois além de ser bem mais em conta do que contratar um jornalista já formado; também era muito mais eficaz porque os estagiários estavam ali para mostrar todo o seu desenvolvimento com a sua futura profissão. E no final, só ficavam os melhores mesmo.
Quando Ágata percebeu, a grande maioria dos funcionários que ela resolveu contratar para o jornal, era de uma nacionalidade diferente. O que deixava o jornal com um aspecto bem diversificado e com vários pontos de vistas diferentes, de acordo com a cultura e a experiência individual que cada um trazia consigo.
A reformulação do jornal foi sentida por todos os mais assíduos leitores. Pois a visão do jornal ia contra a extrema direita que queria punir os imigrantes de seus respectivos países, sem entender que eram eles que nutriam a economia de cada estado econômico. Ágata simplesmente não deixava que essas visões de mundo tivessem espaço em sua redacão, pois ela alegava que aquele novo jornal era feito por imigrantes. E por isso mesmo, não podiam ter distinção de classe, etnia ou religião. Pois ela acreditava no conceito de cidadão e cidadã do mundo.
Uma coluna era de origem belga, outra francesa, italiana, espanhola, portuguesa, brasileira, inglesa, alemã, irlandesa e por aí ia. Os novos funcionários começaram até à pensar que Ágata contratava seus novos funcionários mais pela nacionalidade que detinham, do que pela competência propriamente dita. Mas ela tinha faro para caçar novos talentos jornalísticos. Bastava algumas entrevistas apenas e ela imediatamente já os colocava para fazer a próxima matéria de capa. Como se aquilo fosse um enorme desafio. E todos acabavam entregando excelentes trabalhos profissionais. E como consequência, o jornal deslanchou ainda mais. Atraindo mais acionistas, assinantes e leitores que começaram a abandonar seus livros de cabeceira para atender a demanda das matérias que muita das vezes saiam até de madrugada, em modo home office.
Os acionistas depois de um certo tempo, decidiram aumentar o jornal. E ele logo passou a ser enorme para os padrões de leitura europeus. Mas mesmo assim, você sempre via um ou outro na rua com ele embaixo dos braços como se quisesse dizer que era muito bem informado e metido a intelectual de esquerda.
O jornal era visto nos cafés da cidade e em restaurantes. E imediatamente toda a população de Portugal passou a aderi-lo em suas conversas mais abstratas e filosóficas. Ágata precisou contratar seguranças de elite, pois ela não podia mais sair nas ruas, que era vista como a mais nova CEO de uma empresa de informação em anscensão. Muitos a comparavam com os novos empresários do Vale do Silício. Porém, ela teimava em dizer que o que ela fazia era somente reger a sua própria orquestra rumo à um mundo mais informado e digno de ter cidadãos mais conscientes sobre questões políticas.
Ágata passou a usar as mesmas roupas, alegando que não gostava de pensar todo o dia o que iria usar. E assim, foi taxada como gênio de sua propria geração. Pois ela tinha reformulado um jornal inteiro em busca de uma melhor consciência global. Melhorando seus lucros e abaixando seus riscos de falência, que sempre eram estampados em outros jornais rivais. Saiu na revista Time como a pessoa mais influente do mundo. Se tornou uma das pessoas mais ricas do mundo. Ficando atrás somente dos generais da tecnologia.
Agora muitas garotas se espelhavam nela. E o jornalismo se tornou o curso mais procurado do mundo. Tirando o posto da tecnologia da informacão e de todos os outros setores que também eram totalmente dependentes da futura inteligência artificial.
Muitos diziam que ela tinha devolvido a capacidade de pensar para as pessoas novamente. Pois muitos deixavam agora os seus celulares em casa e saiam apenas com o seu jornal predileto embaixo do braço tendo como destino final o trabalho, a academia ou algum sarau com os amigos que com toda a certeza, iriam discutir os temas que estavam mais em voga no momento.
Ágata foi citada entre a cúpula sueca, para ganhar o próximo Prêmio Nobel de Literatura. Por seu trabalho em manter o bem estar social de toda a nação em conformidade com a diversidade social; e por lutar de maneira incansável contra as ideologias da extrema direita que regrediam toda a nação que dava voz à elas em suas pautas políticas, econômicas, sociais e culturais também.
Todos os jornais e revistas especializadas queriam saber agora aonde ela tinha nascido, crescido e se desenvolvido como cidadã do mundo. Fazendo diversas perguntas à ela em diversas línguas que ela tinha que se virar para responder e provar que era políglota com distinção também. Aonde ela teve a ideia para uma nação mais inclusiva? O que ela achava da educacão mundial? Por que Paulo Freire tinha sido completamente esquecido no Brasil e não no mundo? Eram essas as perguntas que ela tinha que responder na ponta da língua sem gaguejar.
Sua presença gerava desmaios e euforias que era muito difícies de serem contidos. Sem à sua autorização, algumas editoras acabaram reunindo todas as suas crônicas e contos em um enorme livro que acabou virando uma espécie de bíblia para o novo mundo artificial que estava se transformando de modo cada vez mais rápido.
E é claro que ela não gostou nada disso, mas no final resolveu não processar as editoras, porque ela acreditava que a escrita era para ser divulgada, discutida e apreciada de maneira totalmente gratuita também. E assim, seu livro não autorizado se tornou rapidamente um best seller. Desbancando livros de Paulo Coelho e J.K Rowling das listas de jornais como o The New York Times, por exemplo. E figurando por décadas na lista dos mais vendidos de todo o mundo.
Sua casa no Brasil tinha virado uma espécie de museu. Sem contar em sua escola, que a grande maioria sonhava em entrar como se fosse uma nova Universidade com ascendências medievais, como era o Caso de Oxford e Cambridge, na Inglaterra.
A Universidade do Porto, onde ela estudou jornalismo, virou a maior da Europa, com investimentos vindos até da Arábia Saudita. E imediatamente Portugal se tornou o lar para turistas e estrangeiros que se acotovelavam para estudar e viver por ali, nem que fosse para visitar a livraria lello, onde Ágata também tinha trabalhado com afinco e amor, em seu período universitário.
Fizeram estátuas dela no Brasil e em Portugal. E volte e meia os dois países brigavam para saber em qual país seus restos mortais ficariam caso ela sofresse algum atentado, juramento de morte ou fosse simplesmente assassinada em praça pública, por causa de seus pensamentos nada ortodóxos.