Roberto tinha chegado na cidade de Nova York pela manhã. Levava consigo apenas uma mala e um violão. Estava muito frio. A neve estava caindo sem parar sob seus cabelos desgrenhados, enquanto sua vista sofria com a nebulosidade ambiente. Seus óculos de grau ficavam constantemente embaçados pelo vapor que vinha de seu hálito mau cheiroso.
Logo conseguiu ficar em um bordel. Gostava de conhecer pessoas novas que talves pudessem servir de inspiração para alguma canção nova. Ainda estava se adaptando a língua pois tinha acabado de se formar em língua inglesa pela universidade, pois sua língua materna era o português. Mas nada que uma boa conversa não pudesse melhorar no desenvolvimento daquele idioma recém adquirido.
Arranjou logo um emprego de garçom em um restaurante local, enquanto nos momentos livres, tocava violão e cantava suas próprias músicas autorais no bordel em que morava. Ou seja, tinha dois empregos naqueles tempos difíceis. Um de dia outro pela madrugada adentro. Dormia nos fins de tarde e acordava no início da madrugada. E isso se repetiu até ele ter que abandonar de vez o seu emprego diurno, pois já estava ganhando mais pela madrugada adentro do que pelo dia afora.
O bordel sempre atraia muitos artistas que ainda estavam em busca de suas próprias identidades, mas Roberto já tinha à dele. Pois suas músicas eram como poesias para os ouvintes que à escutavam. E muitos se perguntavam como aquele cara desconhecido tinha tantas histórias assim para contar na língua que não era ensinada em sua terra natal.
Assim que começava a cantar – apenas com voz e violão – todos paravam para escutar o que ele tinha para dizer da sociedade, da política, da economia e da cultura principalmente; enfatizando toda a sua arte dedicada à composição. E assim, as pessoas iam saiando daquela espelunca, ao final de cada show, muito mais sábias e informadas sobre o mundo à sua volta do que antes.
E a cafetona do estabelecimento logo viu ali uma oportunidade para que ambas as partes pudessem ganhar mais dinheiro, e assim, resolveu alugar um apartamento com três quartos para aquele garoto, dando tudo o que ele queria para comer, se vestir e ler.
O tempo passou até que algumas gravadoras vieram até aquele lugar para procurar pela nova atração da cidade de Nova York. Os empresários se apresentaram para o garoto prometendo mundos e fundos e ele simplesmente os ignorou dizendo que jamais iria trair a confiança daquela cafetona, que tinha lhe dado de tudo sem pedir nada para ele em troca. E assim, eles sairam do lugar completamente amargurados pois sabiam que alguém iria lhe convencer cedo ou tarde de que ele poderia sonhar com lugares muito melhores para tocar e morar do que aquele.
Mas Roberto era decidido. Dava diversas entrevistas nos jornais dizendo que gostava de sua vida e que estava aprendendo cada dia mais com aquelas prostitutas maravilhosas, que eram suas melhores amigas. E só sairia de lá, caso a cafetona aceitasse ir para um lugar melhor.
O tempo passou e agora o estabelecimento tinha que ter reserva para vê-lo tocar. Pois todo o dia a casa estava cheia de pessoas que gastavam o seu dinheiro com mulheres, jogatina e muita música folk de qualidade nas caixas de som que vinham do garoto com o seu violão e voz aterrorizante de se escutar.
As resenhas dos shows nos jornais eram sempre elogiosas. Mas as prostitutas sempre o blindavam contra os jornalistas e os empresários que só queriam uma parte daquele sucesso todo estampado em alguma capa de jornal ou quem sabe, em algum disco de ouro dependurado em alguma parede de seus escritórios de luxo.
Roberto não sabia nada de negócios e contratos, mas suas amigas do bordel sabiam. Tinham mais experiência de vida por já terem sido enganadas por diversas pessoas em sua vida. Tanto homens como mulheres também. Lhes prometiam tudo, mas no final, lhe entregavam apenas à diária de seus serviços.
Aquilo era uma família de verdade. Roberto se sentia melhor ali do que com os seus próprios parentes de sangue. E todas sabiam disso. Aos poucos, Roberto começou a entrevistá-las para as suas próprias composições novas que estavam sendo jorradas de sua mente, como se aquilo fosse algum ser místico que estava lhes dizendo para escrever, mas não era. Seu talento era absolutamente incrível. Em cada canção nova que cantava, transparecia uma história diferente que tinha acontecido com algumas delas. E elas ficavam todas orgulhosas daquele gênio da música, que mais parecia um irmão mais novo, que precisava de cuidados como qualquer outro em uma família grande.
Mas houveram tempos difíceis também. Pois algumas as vezes voltavam para a casa, dizendo que tinham sido muito abusadas e viololadas por pessoas que tinham graduação nas melhores universidades do país e Roberto ficava sem entender nada daquilo. Ele tentava consolar todas elas dizendo com muita confiança em seus olhos, que um dia ganharia tanto dinheiro que lhes tiraria daquelas vidas miseráveis para sempre.
E foi isso que aconteceu um dia. Roberto estava cantando algumas músicas tristes com o seu violão folk, até que conheceu uma empresária que lhe disse que bancaria todas aquelas mulheres do bordel, caso ele fizesse um disco em sua gravadora. Todas avaliaram os prós e contras daquela profissão e enfim, decidiram aceitar aquela oferta.
Roberto entrou naquele estúdio com uma banda já formada. Ele tinha pegado algumas mulheres que tocavam naquele bordel junto com ele e assim, resolveu montar aquela banda somente para aquele álbum de inéditas. A banda escolheu o respertório e à tocou de uma só vez – com o engenheiro de som na cabine gravando tudo, é claro – como se aquelas música já fizessem parte de suas vidas sofridas a bastante tempo.
Roberto passou à morar numa casa com 16 quartos e 14 banheiros, que comportava todas as suas amigas do bordel. Ficou muito admirado com os royalties que ganhou com aquele seu primeiro cd de folk, pois sabia que o gênero não agradava muitas as pessoas que geralmente só pensavam em música eletrônica e pop e quase não estavam acostumadas à escutar algo que as levassem a eterna reflexão eterna.
Sua empresária logo lhe pediu um novo álbum e talvez uma possível turnê pelo mundo. Roberto ficou um pouco pensativo e levou aquela ideia até as suas amigas para ver o que elas achavam daquilo tudo. Todas se reuniram na enorme sala de estar da casa para a discussão e o debate. Algumas concordaram com a nova ideia enquanto as outras não gostaram muito. Mas Roberto começou a sofrer pressão de ambas as partes, tanto da gravadora como de sua empresária também. E assim, em uma semana, Roberto vasculhou seu acervo de músicas autorais e escolheu quais eram as mais adequadas para que o mundo pudesse escutar naquele momento.
O álbum foi gravado em apenas uma semana. E Roberto ordenou que só sairia em turnê caso pudesse levar a sua família com ele. Sua empresária pensou no assunto junto com a diretoria da gravadora e assim, o pedido foi finalmente aceito.
A comitiva da turnê teve que alugar um jatinho particular que coubessem todas as integrantes daquela turnê maluca. Tocaram em universidades do mundo todo, e logo, estavam lotando grandes estágios de futebol.
O que deu certo naquela tûrne?
Roberto acreditava que tinha sido porque ele e sua banda cantavam na língua oficial de cada país. Pois todos eram aconselhados a aprender as pronúncias corretas com os tradutores de plantão, e assim, a platéia podia curtir todas aquelas letras sem que precissassem fazer nenhum esforço para compreender.
A banda toda conseguiu ganhar muito dinheiro e fazer sua independência financeira vivendo dos royalties daquelas letras carregadas de sofrimento. Roberto fazia questão de que todas assinassem aquelas letras como se fossem suas, pois dizia que aquilo tinha sido escrito pelo descaso que a sociedade tinha com aquelas mulheres que eram esquecidas em bordéis e motéis de Nova York.