• Sobre o Autor

Guilherme Müller

  • O elixir para a vida eterna

    abril 3rd, 2025

    Aquela semana tinha sido muito corrida na redação do jornal onde Ágata trabalhava. Não era fácil conciliar a sua agenda de professora universitária com o cargo de jornalista e ativista política também. O Cansaço começou a mostrar o sinal de sua desgraça, e logo, veio o famoso burnout em sua sala compacta. A sorte foi que ninguém viu. Mas ela bem rapidamente indentificou os sintomas, pois já tinha lido muito sobre eles e imediatamente começou as suas consultas com uma psicóloga clínica, olho no olho.

    Esse novo mundo sem as redes sociais ainda era bem estranho para os iniciantes nessa escolha, mas a maioria estava firme em não voltar mais a usá-las tão cedo.

    Em sua primeira consulta, a psicóloga logo lhe aconselhou a reduzir o ritmo de trabalho, para que ela pudesse cuidar primeiramente de seu bem estar interior. No início foi bem difícil, pois Ágata não sabia lidar com o seu tempo livre, mas ela logo buscou orientações acadêmicas onde especialistas afirmavam que ter tempo livre era bom para o estado de espírito da pessoa. E assim, ela criou um Happy Hour na Redação do jornal uma vez na semana, para relaxar com os colegas de trabalho, onde era proibido falar de qualquer assunto relacionado ao trabalho em que faziam.

    Tudo ficou muito mais íntimo em sua vida a partir daquele momento. Uns traziam salgadinhos, outros bebidas e doces que eram degustados de maneira desenfreada como se todos descontassem suas iras internas na própria comida. Foi a melhor coisa que Ágata pode ter pensado em sua vida. Pois ela acabou aplicando isso nas Universidades em que dava aulas também. Sem contar que ela também aconselhou a gerente da Livraria Lello à fazer o mesmo em sua coordenação de equipa.

    Sua psicóloga adorou saber da ideia que sua paciente teve, por escolha própria, para aliviar o estresse de sua equipe de trabalho. E ela logo, era chamada para passar os natais na casa de seus colegas de redação também. É claro que ela sempre negava, mas com a frequência dos pedidos ela logo teve que aceitá-los. E isso também se prolongou ao ano novo e as férias do meio de ano também.

    Sua agenda passou a estar repleta de encontros sociais e isso aliviou muito a pressão que sentia em relação aos seus cargos. E ela assim, até passou a ter alguns namorados e namoradas, mas no final, nada era para valer pois ela resguardava muito a sua privacidade para criar textos que ela considerava a sua própria epopéia artística.

    Sua psicóloga passou a explorar isso em sua personalidade e Ágata logo abandonou as consultas semanais que fazia em uma frequência quase que religiosa. E assim, chegou a conclusão de que ninguém poderia saber de todos os seus segredos de vida, alegando que isso perdia a graça da sedução e da magia que é viver em um mundo repleto de literatura.

    Pois qual seria à graça de saber todo o roteiro de vida de uma pessoa com seus traumas e realizações pessoais?

    Isso não entrava de jeito nenhum em sua cabeça.

    Passou a exagerar em bebedeiras e sexo com proteção, pois tinha pavor de colocar um filho no mundo, alegando que não saberia lidar com outra vida sob o mesmo teto que o dela. Mas isso logo passou, sendo considerado uma má fase.

    Ágata estava vivendo! E sempre que podia escrevia tudo o que vinha pela cabeça, rotulando os seus textos como crônicas e contos que um dia poderia contar à quem quer que fosse. Mas preferia manter o profissionalismo colocando em seu jornal apenas histórias de sua confiança política.

    Mas depois ela pensou melhor e decidiu colocar tudo o que escrevia nos jornais. E assim, utilizava-o como um confidente. Muitos acharam um erro crasso, outros, a maior genialidade que tinha passado por aquela redação em séculos de existência.

    Alguns riam do que ela escrevia; outros refletiam sobre os seus textos tentando aplicá-los de forma secreta em suas vidas sem propósito ou perspectiva nenhuma. E assim, ela passou a ser conselheira por onde passava como se estivesse descoberto algum elixir para a vida eterna.

  • A sétima arte contemporânea

    abril 2nd, 2025

    Nada mais era como antes. As pessoas pareciam mais vivas do que nunca. Os CEO’S das Big Techs foram aos poucos perdendo toda a sua fortuna, construindo bunkers para um apocalipse que nunca chegava. Acabaram ficando loucos com as possíveis guerras que poderiam acontecer no mundo, mas que logo, ficou comprovado que não passava de teorias da conspiração sem fundamento científico e teórico algum.

    Ágata se dedicou com muito empenho ao novo mundo que estava ressurgindo. Dava suas aulas e palestras nas Universidades Lusas e ainda por cima, sempre escrevia nos jornais locais como uma ativista política.

    O mundo tinha ficado bem melhor sem as redes sociais e seus criadores que não sabiam o que faziam com suas somas sempre alarmantes de dinheiro. O único bilionário que se manteve em pé foi o senhor Bill Gates. Que acabou doando toda a sua fortuna para acabar com a fome no mundo. E assim, o planeta se livrou da escassez de comida para sempre.

    Também não existia mais a divisão de países que eram desenvolvidos daqueles que eram considerados sub-desenvolvidos. Pois todas as bandeiras começaram a se tratar de maneira muito harmônica e homogênea. Mas para deixar claro aqui, não víviamos em um comunismo ideológico também.

    As pessoas estavam muito mais cultas e inteligentes. E a grande maioria começou a acreditar que estava dormindo esse tempo todo, por causa da influência que as redes sociais exerciam em suas vidas. Controlando o que viam baseados nos gostos pessoais que cada um tinha sobre a cultura, política, econômia e arte. E assim, todos tiveram que saber respeitar opiniões diferentes das que tinham para que assim, pudessem viver todos em harmonia.

    As experiências pessoais voltaram a ter muito mais importância também. Pois antes, a grande maioria deixava se levar pela influência dos influencers que simplesmente perderam os seus empregos e tentavam recomeçar suas vidas em empregos normais novamente.

    Porém, para ser considerado um artista novamente, à pessoa tinha que começar a cantar em bares e pubs, deixando de lado as redes sociais e toda a comodidade de seus lares com wifi. Elas tinham que reaprender a conviver com o seu séquito de seguidores de maneira pré-histórica. Conversando, dialogando e trocando ideias sobre o mundo em que estavam, repleto de artes nos muros das cidades.

    As concessionárias também tiveram que se readaptar bem rapidamente, pois ninguém queria mais carros à gasolina. Mas felizmente, a Tesla do senhor Elon Musk acabou falindo, pois todos fizeram mutirões nas ruas protestando contra as políticas adotadas por ele à favor de seu eterno amigo Donald Trump. Em seguida, foi a vez da empresa META do senhor Mark Zuckerberg, que viu falir bem diante de seus olhos as suas queridas redes sociais: o Facebook, o Threads e o Whatsapp. Onde as pessoas de um dia para o outro, simplesmente deletaram suas contas sem qualquer aviso prévio.

    As bibliotecas voltaram a ficar abarrotadas de gente com filas nas portas e até reserva marcada, para que as pessoas pudessem desbravar aqueles livros que ainda não tinham sidos explorados adequadamente. E logo, as prefeituras locais tiveram que contratar mais pessoas para que pudessem atender à nova demanda exigida.

    E assim, num passe de mágica, viamos novos empresários investindo todas as suas economias na abertura de novas livrarias espalhadas pelo mundo afora, numa espécie de franquia de Mc’Donald’s. E agora, todos queriam ser escritores, poetas e compositores de bandas mais famosas que os Beatles algum dia foram.

    Todos sabiam que isso era impossível, mas cada pessoa voltou a acreditar em seu potencial criativo e artístico como algum dia os meninos de Liverpool acreditaram. E o que antes estava esquecido e adormecido, agora era lembrado novamente como à sétima arte contemporânea.

  • A abstinência digital

    abril 1st, 2025

    Era mais um dia habitual na cafeteria preferida de Ágata no Porto, em Portugal. Como de costume ela estava escrevendo diversas colunas informativas sobre a geopolítica mundial em seu site particular quando inesperadamente ela começou a prestar atenção ao noticiário local:

    Pela primeira vez em nosso mundo tecnológico ocorrerá um apagão em todos os nossos serviços digitais por tempo indeterminado. Os CEO’S das Big Techs não sabem ao certo o porquê disso estar acontecendo em pleno século XXI, mas admitem, que o pior ainda pode estar por vir. Então… alertamos aos nossos assinantes para se protegerem, seja lá do que for.

    Ágata quando voltou os seus olhos para o seu blog pessoal já estava indisponível. Sua sorte foi que ela guardava todos os seus textos no word da Microsoft.

    Os burburinhos pela cafeteria recomeçaram a todo o vapor, como se as pessoas soubessem que aquilo deveria ser apenas provisório, mas na realidade, depois de um certo tempo, acabou não sendo.

    Muitos começaram a passar por ela na rua e até perguntavam se ela tinha rede móvel em seu celular. O que ela respondia que não, já sabendo que aquilo poderia ser de propósito por causa das políticas globais.

    Alguns começaram a sofrer de abstinência tecnológica, não sabendo o que iriam fazer em seu tempo livre, já que à nova realidade exigia a leitura de algum livro ou até mesmo o contato com outro ser humano de maneira cara a cara. Ágata não reclamou com ninguém. Na redação do jornal só escutava os comentários e foi a mesma coisa nas Universidades de Portugal onde dava aulas e palestras.

    O mundo preferiu o retorno das cartas e os correios logo voltaram a todo o vapor quase que de maneira instantânea. A grande maioria teve que conter a sua ansiedade para receber respostas dos parentes que moravam longe das Terras Lusas; mas aos poucos, todos foram se adaptando a não precisar mais de suas redes sociais para sobreviver.

    Ninguém sabia ao certo o que tinha realmente acontecido com a revolução da Inteligência Artificial e suas redes sociais em contínua adaptação. Mas aos poucos as pessoas pararam de se preocupar com isso e o mundo voltou a ser mais natural e realista. Alguns aderiram com unhas e dentes aos jogos de videogame novamente pois os espcialista diziam que isso fazia muito bem ao cérebro em doses moderadas é claro.

    Na redação do jornal tudo ficou mais natural também. E logo, Ágata resolveu deletar todas as redes sociais que o jornal utilizava alegando que as pessoas agora só se preocupavam com as notícias do mundo escritas no jornal apenas. E assim, o mundo teve uma anscensão de novas assinaturas nos jornais mundiais que se responsabilizaram novamente em entreter e informar sua adorada população.

    É claro que ficou muito mais difícil saber o que tal celebridade estava fazendo com o seu tempo livre, já que as redes sociais respondiam quase que instantaneamente à isso. Mas os artistas até que gostaram da nova sociedade que estava se recriando e se readaptando à esse novo mundo sem o advento da tecnologia em seu encalço em tudo o que uma determindada pessoa fazia da sua vida.

    Ágata também ficou muito impressionada com à demanda de livros que começaram a ser vendidos na Livraria Lello, no Porto, em Portugal. Parecia que a maioria das pessoas estavam redescobrindo a arte da leitura novamente, como se fosse a primeira vez que tateavam um livro novo, recém saído da impressão para consumo. Via-se as pessoas nas ruas atentas à leitura novamente e isso era muito bom para as livrarias mundo afora, pois as ameaças recorrentes de falência foram extinguidas do vocabulário popular. E assim, quando o apagão do mundo tecnológico foi resolvido e as redes sociais foram reestabilizadas junto com as suas inteligências artificias, as pessoas por escolhas próprias, preferiram deletar as suas redes sociais, gerando uma crise sem precedentes no hoje, já extinto, Vale do Silício.

  • Um porto seguro sob as águas

    março 26th, 2025

    – Viu só!… Foi um ótimo plano ter vindo até aqui – Diz Gerson ao olhar para o cais do Porto com todos aqueles navios e iates atracados.

    – Agora só resta saber se dentro deles existe algum zumbi perdido… – prefetiza Maria Clara embanhando sua arma novamente.

    – Quem vem comigo?… – pergunta Gerson já sabendo a resposta para aquela pergunta – Foi o que eu pensei! – Maria Clara levanta sua arma como se estivesse em guerrilha.

    – Vamos ficar aqui na areia esperando vocês voltarem… – explica Fabiana entrando em modo alerta junto com o seu amigo Estevão.

    – Tomem cuidado com essas pragas! – alerta Gerson, sabendo que o seu melhor amigo poderia ser um pouco atrapalhado as vezes.

    – Nós já voltamos!… – comunica Maria Clara enquanto via se sua arma estava realmente bem carregada.

    Gerson e Maria Clara sobem pela escada de madeira que os levava diretamente para a sala de confraternizações do navio de cruzeiro. Chegando por lá, encontram as mesas cheias de comida ainda frescas com muito vinho a disposição também.

    – Parece que deixaram a festa só para a gente agora… – debocha Gerson soltando um sorriso malicioso ao olhar rapidamente para o corpo de sua parceira imaginando mil coisas na cabeça – Será que eles foram burros o suficiente para terem saido daqui?

    – Parece que sim!… – Maria Clara mira nos andares lá em cima procurando algum zumbi barulhento – Fique aqui e chame os outros!… Vou vasculhar todo esse navio para ver se tem alguém escondido por aqui ou quem sabe algum…

    – Pelo visto… Eles abandonaram o barco mesmo. Você não acha perigoso você ir sozinha não?

    – Não se preocupe comigo! Eu sei me cuidar muito bem sozinha, ao contrário de seu amigo.

    – Tudo bem!… Vou buscar os outros então e já já estou de volta.

    Maria Clara vasculha cada andar do navio sem encontrar ninguém. Ela passa pelos quartos, banheiros, cozinha e até a central de comando do navio sem se deparar com um zumbi sequer. O lugar estava realmente vazio. Mas a grande questão que permanecia em sua mente era o motivo daquela embarcação ter deixado aquele navio atracado ali sem ninguém para contar a história daquilo à eles.

    – Tudo certo!… Depois do que vi vai ser bem difícil me convencerem a abandonar esse lugar. Só saio daqui morta!… Temos alimentos para anos a fio. Depois mostro para vocês.

    – Finalmente posso chamar esse lugar de lar então… – diz Estevão se sentindo muito mais aliviado de ter um canto para morar até que essa epidemia seja controlada ou quem sabe extinguida em algum momento – Acho que todos nós precisamos de um bom banho. Não concordam?…

    – Gerson puxe as escadas de madeira do navio antes que algum zumbi possa entrar pela porta de frente e nos pegar totalmente desprevinidos. Ok?… – pede Maria Clara indo mostrar aonde é que era os banheiros para os seus companheiros.

    – Deixa comigo!… Vou ficar de vigia lá em cima até que vocês terminem. Tudo bem?… – Maria Clara assente com a cabeça em sinal de afirmativo.

  • Buscando um refúgio entre os zumbis

    março 25th, 2025

    – Há quanto tempo estamos aqui?… – pergunta Gerson muito preocupado com os outros – Será que já podemos sair desse bunker?

    – Acho que sim… mas e quanto aos zumbis que provavelmente estão rondando lá em cima?

    – Vamos ter que ter coragem se quisermos sobreviver a este novo inferno – argumenta Gerson, ao comer um pedço de carne em seu prato.

    – Ainda bem que aqui embaixo está lotado de armas e munições… – rebate Maria Clara já pensando nos próximos passos daquela comitiva – Pois não quero ficar aqui embaixo para sempre, por mais que tenhamos muita comida.

    – Ela está certa!… Precisamos pegar o que for preciso para que possamos ir adiante – Diz Gerson recarregando algumas armas.

    – Como assim ir adiante?… – pergunta Fabiana, sem entender nada daquilo – Pensei que aqui estávamos seguros.

    – Mas não é possível!… Você acha que realmente ficaríamos aqui até quando?… Ou será que você se esqueceu que o governo do mundo todo foi extinto. Agora é cada um por si e Deus por todos. Se ainda existir fé nesse mundo de desolação, é claro.

    – Mas iremos para onde?… – torna a perguntar Fabiana – Aqui temos tudo o que precisamos até que chegue algum reforço do estado.

    – Você está surda ou o quê?… Já falei que o estado não quer mais saber de sua população. É só olhar para os noticiários de TV… Eles falam para nos mantermos em casa protegidos mas não demonstram nenhum tipo de plano para a evacuação em massa. Não tem como!… É mais gente do que qualquer governo é capaz de recolher.

    – Ele tem razão!… – Diz Estevão, começando à colocar alguns suprimentos em sua mochila para os próximos dias – Eu também não quero ficar aqui para sempre, então… é melhor nos apressarmos até que possamos encontrar uma outra fortaleza no nível do mar, pelo menos.

    – Alguém já deve ter tido esse plano!… – Gerson diz em um tom mais alto do que o normal – Pois afinal, o vírus não deve ter corroído à todos que estiveram na superfície no momento da catástrofe, então… Se sobreviveram pessoas como a gente, com toda a certeza deve existir outros lá em cima.

    – Mas e se nós nos infectarmos pelo ar? – pergunta Fabiana, ainda um pouco receosa de ter que sair daquele lugar tão acolhedor.

    – Não seja uma imbecil!… À essa hora todos nós já fomos infectados – responde Gerson sem nenhum tipo de paciência para ficar mais tempo preso naquele bunker fétido.

    – Isso quer dizer então que quem for o próximo a morrer de formas naturais se transformará em zumbi instantanemante, não é isso?… – Pergunta Estevão, tendo uma certa intuição da resposta que seu amigo irá lhe dar.

    – Exato!… Há uma hora dessas toda a população que sobreviveu já está infectada também.

    – Que horror! – Fabiana mal consegue acreditar naquilo em que escuta.

    – Pois vá se acostumando!… – Gerson olha em volta daquele bunker por uma última vez, como se estivesse esquecido de alguma coisa antes de ir – Acho que está tudo certo!… Quem vem comigo?… Fabiana? Estevão? Maria Clara?… Foi o que eu pensei!

    E assim, a nova comitiva se transforma numa espécie de família na superfície. Se defendendo de alguns zumbis chatos e logo encontrando um carro onde podem atravessar aquela estrada rumo ao litoral mais próximo.

    – Não acha que é melhor irmos para uma cidade maior que essa?… – Sei lá… As vezes podemos encontrar alguma fortaleza bem protegida por outros grupos – Estevão tenta pensar em algumas possibilidades, vendo a cara de poucos amigos daquele que está ao volante.

    – Não seja um idiota!… Você acha realmente que alguém vai nos receber de braços abertos nesse inferno que se transformou o mundo?… Caia na real Estevão! – esbraveja Gerson ao cerrar os seus dentes – Nós precisamos ir até a costa para ver se tem algum navio atracado nele. Pois assim, podemos sair desse país assombrado.

    – Excelente ideia!… – Diz Maria Clara – Ainda mais se conseguirmos um navio de cruzeiro. Pois ele com toda a certeza irá ter tudo aquilo que precisamos. E acho que nenhum zumbi irá nos perturbar quando tomarmos um e fizermos dele uma fortaleza sob a água.

    – Estou pegando um atalho para que possamos chegar no Porto mais rápido… – comunica Gerson, torcendo para que a sua ideia dê certo.

  • O apocalipse zumbi

    março 24th, 2025

    – Isso não está acontecendo!… – esbraveja o médico especialista do laboratório – A bacteria está começando a se propagar para fora daqui.

    – Mas como isso aconteceu?… – pergunta a sua assistente de trabalho.

    – Eu não sei!… A inteligência artificial que controla esses computadores parece que enguiçou – diz o médico ao olhar para todas aquelas funções no computador.

    – E não tem como reverter esse processo antes que a população sofra as consequências? – pergunta a sua assistente, transparecendo toda a sua preocupação em seu rosto.

    – Infelizmente não!… Quem me dera que eu pudesse controlar essa inteligência artificial.

    – Mas o que pode acontecer com a humanidade?

    – Nos casos mais extremos pode transformá-la em zumbis… – responde de forma direta o médico, refletindo por um segundo sobre aquela possibilidade – ainda mais para quem não tem a imunidade muito alta.

    – Zumbis?… Mas como pode?… Esses anos todos eu estava trabalhando para o senhor e você só me diz que esse virus é capaz disso só agora?

    – Me perdoe por isso, mas nós estávamos trabalhando para a cura de diversos tipos de vírus, e esse era um deles, caso acontecesse um apocalipse, por exemplo. E além do mais eu nunca poderia imaginar que a inteligência artificial fosse querer algo como isso para a humanidade.

    – E o que fazemos agora?… – pergunta a sua assistente.

    – Estou tentando ligar para a minha superiora para informá-la sobre esse caso… – explica o médico – mas no seu caso acho melhor você informar a sua família sobre o ocorrido para que eles possam se preparar para o pior cenário possível dentro de horas.

    – E em quanto tempo até esse vírus chegar em todo o planeta?

    – Acredito que dentro de 24 horas apenas! – informa o médico deixando transparecer toda a sua precoupação ao segurar com muita firmeza aquele celular.

    – O que vamos fazer depois da ligação?

    – Informar o prédio todo antes que possamos voltar para as nossas famílias… – informa o médico – E lhe aconselho que você vá para algum bunker também, caso tenha conhecimento de quem tenha, é claro.

    No momento em que o médico diz aquelas palavras, o prédio todo sofre uma grande explosão radiotiva, onde quase ninguém sobrevive para contar aquela história. O mundo agora estava para ser tomado por esse vírus devastador de células vivas dentro de apenas 24 horas.

    Porém, algumas pessoas que conseguiram sair à tempo do prédio, logo foram para o bunker que ficava bem próximo dali e aproveitaram a oportunidade para que pudessem avisar aos seus familiares que um vírus muito potente estava para assolar o mundo em um apocalipse zumbi devastador.

    Muito poucos acreditaram naquilo. Mas os que aceitaram aquilo como verdade e se refugiaram em bunkers, foram salvos de inalar aquele vírus que destruia qualquer vida que encontrasse pela frente, transformando-os em mortos vivos para todo o sempre.

  • Como o mundo seria depois da 3ª Guerra Mundial?

    março 1st, 2025

    Ágata ainda se lembra aonde estava quando tinha finalizado o último capítulo de seu romance. O restaurante estava atulhado de pessoas conversando alto, enquanto ela escrevia aquele fabuloso enredo sem parar para tomar um pequeno gole de café sequer.

    Tinha passado meses naquele enredo repleto de personagens profundos e agora era muito difícil se desvencilhar de todos eles e seguir com a sua própria vida. Mas aos poucos ela foi se esquecendo da história, do enredo e da trama principal que envolvia à todos, e assim, voltou a se focar inteiramente na Livraria Lello.

    Ágata estava muito nervosa e ansiosa por ter que começar em uma nova carreira sendo uma escritora. Tinha enviado o seu original para diversas editoras ao redor do globo e ficava esperando a resposta de algumas delas em seus momentos vagos, checando os seus emails de hora em hora.

    E logo no seu dia mais atarefado na Livraria, Ágata foi informada que alguns editores gostariam muito de falar com ela à respeito de sua obra. E assim, ela se despiu de seu avental com muito cuidado e foi a diversos restaurantes falar com eles à respeito de seu original.

    Chegando por lá, ela descobriu que todos os editores queriam publicar o seu livro em seus países de origem, e assim, ela acabou vendendo os direitos autorais de sua obra, por uma soma exorbitante de dinheiro, que ela poderia muito bem parar de trabalhar na Livraria Lello se quisesse.

    Mas ela não fez isso. Pois ela imediatamente também recebeu propostas de adaptação cinematográfica de seu obra, o que lhe deixou bastante empolgada que até começou a imaginar os atores certos para cada papel em específico.

    Mandava centenas de convites de emprego para diversos atores e atrizes que eram capazes de interpretar com elegância seus personagens. E logo, marcou uma data no calendário para o lançamento mundial de sua obra na Livraria Lello, que imediatamente fez milhares de convites que lotou o ambiente de uma maneira bem inesperada.

    Ágata tinha ficado maravilhada com a sua força. Pois tinha perdido o emprego no jornal e nas Universidades e mesmo assim, conseguiu se tornar uma escritora de muito sucesso. Era convidada por diversos países para falar sobre o autoritarismo da extrema direita.

    Aos poucos os jornais foram voltando a chamá-la para fazer matérias e colunas sobre a Terceira Guerra Mundial, ao passo que as universidades do mundo todo à convidavam para fazer palestras também. Porém, ela não queria mais escrever romances, dizia que aquilo não era para ela, pois o seu hobby era mesmo escrever sobre a história e sua contemporaneidade. E assim, enquanto os países do mundo todo iam se reconstruindo, aos poucos, seus líderes foram encarando uma nova realidade que precisava ser enfrentada por seus cidadãos. À de estudar as origens e consequências daquele conflito.

    Sendo assim, Ágata reuniu tudo o que tinha escrito naquela época e encaminhou diretamente para que a sua editora pudesse fazer um livro que imediatamente virou um best seller no mundo todo.

    Ágata agora sabia que toda a sociedade tinha um certo tempo para poder digerir o conflito, por isso que os livros de poemas e romances foram bastante vendidos naquela época nefasta; as pessoas não queriam ou não tinham coragem para encarar os fatos, mas agora estava na hora de mostrar-lhes que no mundo não se vive só de ilusão e fantasia, pois enquanto uns se voltam para a ficção, Ágata e seus colegas de trabalho estavam voltados para a dura realidade de ter presenciado uma nova guerra mundial, com consequências inimagináveis para a civilização daqui para a frente.

  • A literatura do pós-guerra

    fevereiro 28th, 2025

    Ágata estava passando por um momento péssimo em sua vida profissional. Tinha sido demitida das Universidades de Portugal onde dava aulas e palestras sobre a geopolítica mundial; e também não era mais requisitada para escrever novas matérias e colunas nos jornais locais. E assim, decidiu por conta própria, voltar a trabalhar na Livraria Lello, atendendo as pessoas como se a sua vida antiga pudesse ser completamente apagada.

    As pessoas entravam na livraria e tomavam um choque por ver uma correspondente de guerra ali, trabalhando como se nada tivesse acontecido.

    Ágata sempre era solicita com todos e mais uma vez chegou ao cargo de gerente da livraria, mas mesmo assim, insistia em organizar os livros por assuntos, colocando na vitrine os mais vendidos do pós guerra.

    Mas ela sabia que tinha algo de estranho naquele novo mundo. Pois a grande maioria não queria saber mais de história, muito menos de jornalismo investigativo. E assim, a Livraria Lello passou a encomendar somente livros de poesias e romances, que saiam como água; enquanto outros assuntos, encalhavam nas prateleiras e acabavam acumulando uma poeira enorme.

    Ágata ficava muito chateada com aquilo tudo, pois ela sempre tinha preservado em sua vida, a liberdade de pensamento e a reflexão profunda sobre temas existenciais, que afligiam diretamente a sociedade. Mas parecia que agora, as pessoas não queriam pensar sobre o que tinha acontecido no mundo. Se desviando para poesias e romances que não levavam à lugar nenhum.

    Ela até tentava conversar com alguns amigos que restaram no pós guerra, mas eles logo desconversavam alegando que a sociedade estava muito ocupada tentando reconstruir tudo o que tinha sido destruído no conflito. E assim, mais uma vez, ela foi silenciada.

    Ágata então retomou o seu serviço na Livraria Lello com muito afinco. Mas insistia em Passar o seu tempo livre entre livros velhos de história. Resolveu cortar o sinal de sua antena de televisão também, alegando para os provedores que o jornalismo tinha acabado.

    E assim, ela foi obrigada a dar sequência à sua vida, mas nos momentos vagos tornava à escrever romances históricos com uma assiduidade incrível. Pois ela sabia que muito em breve seria publicada por alguma grande editora e que o lançamento de seu próximo livro seria na Livraria Lello. E ninguém poderia silenciá-la com o que ela tinha visto e escrito sobre o conflito que tinha mudado a consciência de uma nova geração do pós guerra.

  • A ilusão momentânea da contemporaneidade

    fevereiro 27th, 2025

    Ninguém poderia prever o fim daquele conflito. Mas em um dia frio de dezembro, ele chegou ao fim, trazendo consigo todas as marcas da derrota. Nenhum país saiu com as glórias da vitória, como aconteceu com as duas grandes guerras anteriores. E assim, os esforços envolvidos para a reconstrução de cada país foram enormes.

    Muitos países pediram empréstimos, inclusive os Estados Unidos, a Rússia e a China. Abrindo assim, as portas para que as potências menores fizessem a mesma coisa. Colapsando de vez os bancos internacionais.

    Ágata ficou bem assustada com aquela situação, pois a maioria dos jornalistas de guerra que sobreviveram, como ela ao conflito, não tinham como prever o que iria acontecer dali para a frente. E muitos foram para o campo da poesia e da literatura como tentativa de externalizar o que estavam sentindo com aquilo tudo que tinha restado da civilização humana.

    Das livrarias que ficaram de pé a única que restou foi a Livraria Lello, no Porto, em Portugal. Então a maioria dos livros que eram lançados no pós guerra eram obras de jornalistas que experienciaram de frente o conflito como protagonistas. Via-se muitos livros sobre poesia. E até parecia que alguns escritores não queriam escrever sobre o conflito, e assim, faziam-se alusões ao conflito de maneira muito romanceada.

    Mas a escrita de Ágata era bem diferente. Sua produção se dava no que ela tinha escutado, visto e presenciado sobre o conflito com exclusividade. Porém, tinha um problema. Ela não conseguia indicar quem tinha saído vitorioso com aquela guerra daqueles que tinham saído derrotados. E assim, seus textos foram perdendo credibilidade jornalística também, junto com os seus colegas de trabalho que optavam por não querer escrever sobre o que tinha acontecido.

    As editoras queriam poesia e romances fictícios, alegando que a população precisava ser amada novamente, e assim, tudo que era produzido sobre o conflito vindo de historiadores e jornalistas, era imediatamente rejeitado pelas editoras e jornais locais.

    Ágata ficou extremamente decepcionada com aquela medida. E assim, tentou os primeiros esboços de um novo romance que nunca viu a luz do dia entre leitores, escritores, editores e livrarias ao redor do mundo.

    Ela descartou logo a ideia daquilo e teve a ideia de criar um site para que pudesse mostrar o que tinha acontecido na guerra com as pessoas que viviam em Portugal, pelo menos. Mas ela logo observou que o seu site não estava tendo tráfego algum com novos leitores, pois as pessoas teimavam em usar a leitura como forma de entreterimento apenas, e não mais como arma para se informar, como acontecida antigamente com a sua reputação.

    Mas Ágata era muito teimosa e continuou a escrever em seu site, mesmo sabendo que ninguém nunca leria as suas matérias e colunas jornalísticas como antigamente.

    A maioria dos jornais fecharam as portas e os que ainda estavam em pé só publicavam crônicas do dia a dia como forma de entreterimento. Ao qual eram vendidos milhares de exemplares junto com as editoras de livros que faziam o mesmo com os novos romances históricos repletos de amor e paixão.

    Ágata se viu totalmente perdida no mercado editorial. Pois o que antes era publicado aos milhões agora tudo passava pelo crivo da autoridade do estado que lia suas colunas e matérias com muito afinco e depois recusavam o seu trabalho alegando que as pessoas iriam ficar depressivas com as fotos que poderiam ser impressas nos jornais sobre a guerra em questão.

    E assim, os jornais e editoras pareciam ignorar o que era escrito sobre a guerra, dando sempre preferência à ilusão momentânea da contemporâneidade.

  • As consequências do Apocalipse

    fevereiro 26th, 2025

    Ágata começou a ver vários cartazes nas ruas anunciando o tão esperado Apocalipse. Pois o anti-cristo todos já sabiam que era o presidente dos Estados Unidos, ainda mais depois dele fazer todos aqueles pronunciamentos diante dos jornalistas de Washington, que previam a morte do papa Francisco para março daquele ano.

    Muitos acabaram abandonando seus lares com a chaleira ainda a zunir pela cozinha. Escapavam dos escombros e dos drones que pairavam no ar com seus alvos bem localizados. Viamos carros no meio da rua e crianças gritando sem saber para onde iriam seus melhores amigos daqui para a frente.

    Ágata se manteve firme. Foi uma das poucas pessoas que ficaram em Portugal para cobrir melhor a guerra pela Europa. A cidade do Porto se esvaziou como o Coliseu em Roma de antigamente. E assim, ela resolveu retornar para o seu trabalho fotográfico tirando várias fotos daquele conflito previsto por ela a alguns anos atrás, com o início da guerra na Ucrânia e na Palestina também.

    Ela nunca se imaginou em cobrir o Apocalipse para o mundo, ainda mais, fazendo matérias jornalísticas exclusivas do conflito. Tirava fotos de famílias que ficaram totalmente carbonizadas pelo fogo das bombas jogadas por drones militares, além de crianças que muita das vezes, perdiam todos os seus familiares no conflito; e que andavam no meio das ruas procurando algum amigo ou desconhecido que pudesse lhe dar abrigo e comida.

    Era tudo muito assustador. Ágata acabava pensando muito nos seus avós, que fugiram da 2ª Guerra Mundial para se livrarem de uma Europa muito enfraquecida economicamente, e agora, parecia que tudo estava voltando ao que era. Com conflitos sem sentido e o mundo todo participando do conflito sem que alguns países pudessem ter condições de se manter em estado de guerra.

    Os estrondos eram sentidos na sacada de seu apartamento no Porto. E até algumas fotos foram tiradas desse local. Mas o que deixava os seus leitores mais impactados eram as fotos dos corpos de guerra. Via-se muitas mutilações espalhados pelas ruas de Portugal. E o que era antes uma cidade bela para se visitar, rapidamente se tornou um lugar devastado pelo conflito. Com igrejas, universidades e museus totalmente destruídos. Levando para o fundo do poço séculos de história medieval.

    Tudo agora era uma questão de tempo até que as grandes potências mundiais tivessem coragem de testar suas bombas nucleares. Rússia estava esperando ataques vindos dos Estados Unidos e da Europa, mas parecia que ninguém queria gravar o seu nome na história despejando suas primeiras armas nucleares no vizinho. Mas logo, a China decidiu iniciar o conflito mirando na Casa Branca em Washington, matando milhares de civis, jornalistas e políticos de ambos os partidos do congresso americano.

    Ágata leu a matéria no jornal enquanto Portugal estava sendo atacado à noite por forças ocultas de drones sem identificação, mas os políticos europeus logo preferiram colocar a culpa na Rússia e na China, porque era muito mais cômodo.

    Portugal não tinha bunkers! Somente cidades muradas, onde as pessoas começaram a se abrigar e logo os pequenos vilarejos ficaram totalmente abarrotados de gente. Ágata aproveitou a oportunidade para ajudar na entrega de cestas básicas para famílias que perderam tudo nos grandes centros, como Lisboa, por exemplo.

    O que mais à deixava assustada era o estado emocional das crianças que não sabiam o motivo de estarem abandonando suas casas e amigos de escola. Diziam que essa guerra não tinha vencedor e só perdedores. O que iriam fazer daqui para a frente?…

    Ágata não tinha a resposta para aquela pergunta. Mas o que mais lhe intrigava, era o fato de que ela tinha avisado sobre um possível novo conflito anos atrás; e parecia que os países tampavam os seus ouvidos com acordos políticos que só beneficiavam seus próprios interesses econômicos.

    E assim, aos poucos, ela foi perdendo seus colegas de trabalho, que eram citados em rádios, como grandes personalidades, que tinham feito algo para a sociedade. Levando-os a pensarem de forma diferente e mais consciente do que os políticos queriam.

    Suas fotos apareciam nos jornais, levando-a às lágrimas. Ela se lembrava das histórias de cada um e do duro que tiveram que dar para chegar aonde chegaram. Mas infelizmente, suas vidas tinham sido interrompidas por causa do luxo político de se governar para líderar. Mas a grande pergunta que pairava em sua cabeça era:

    Por que um país tinha que competir para ser uma potência?

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