Aquela semana tinha sido muito corrida na redação do jornal onde Ágata trabalhava. Não era fácil conciliar a sua agenda de professora universitária com o cargo de jornalista e ativista política também. O Cansaço começou a mostrar o sinal de sua desgraça, e logo, veio o famoso burnout em sua sala compacta. A sorte foi que ninguém viu. Mas ela bem rapidamente indentificou os sintomas, pois já tinha lido muito sobre eles e imediatamente começou as suas consultas com uma psicóloga clínica, olho no olho.
Esse novo mundo sem as redes sociais ainda era bem estranho para os iniciantes nessa escolha, mas a maioria estava firme em não voltar mais a usá-las tão cedo.
Em sua primeira consulta, a psicóloga logo lhe aconselhou a reduzir o ritmo de trabalho, para que ela pudesse cuidar primeiramente de seu bem estar interior. No início foi bem difícil, pois Ágata não sabia lidar com o seu tempo livre, mas ela logo buscou orientações acadêmicas onde especialistas afirmavam que ter tempo livre era bom para o estado de espírito da pessoa. E assim, ela criou um Happy Hour na Redação do jornal uma vez na semana, para relaxar com os colegas de trabalho, onde era proibido falar de qualquer assunto relacionado ao trabalho em que faziam.
Tudo ficou muito mais íntimo em sua vida a partir daquele momento. Uns traziam salgadinhos, outros bebidas e doces que eram degustados de maneira desenfreada como se todos descontassem suas iras internas na própria comida. Foi a melhor coisa que Ágata pode ter pensado em sua vida. Pois ela acabou aplicando isso nas Universidades em que dava aulas também. Sem contar que ela também aconselhou a gerente da Livraria Lello à fazer o mesmo em sua coordenação de equipa.
Sua psicóloga adorou saber da ideia que sua paciente teve, por escolha própria, para aliviar o estresse de sua equipe de trabalho. E ela logo, era chamada para passar os natais na casa de seus colegas de redação também. É claro que ela sempre negava, mas com a frequência dos pedidos ela logo teve que aceitá-los. E isso também se prolongou ao ano novo e as férias do meio de ano também.
Sua agenda passou a estar repleta de encontros sociais e isso aliviou muito a pressão que sentia em relação aos seus cargos. E ela assim, até passou a ter alguns namorados e namoradas, mas no final, nada era para valer pois ela resguardava muito a sua privacidade para criar textos que ela considerava a sua própria epopéia artística.
Sua psicóloga passou a explorar isso em sua personalidade e Ágata logo abandonou as consultas semanais que fazia em uma frequência quase que religiosa. E assim, chegou a conclusão de que ninguém poderia saber de todos os seus segredos de vida, alegando que isso perdia a graça da sedução e da magia que é viver em um mundo repleto de literatura.
Pois qual seria à graça de saber todo o roteiro de vida de uma pessoa com seus traumas e realizações pessoais?
Isso não entrava de jeito nenhum em sua cabeça.
Passou a exagerar em bebedeiras e sexo com proteção, pois tinha pavor de colocar um filho no mundo, alegando que não saberia lidar com outra vida sob o mesmo teto que o dela. Mas isso logo passou, sendo considerado uma má fase.
Ágata estava vivendo! E sempre que podia escrevia tudo o que vinha pela cabeça, rotulando os seus textos como crônicas e contos que um dia poderia contar à quem quer que fosse. Mas preferia manter o profissionalismo colocando em seu jornal apenas histórias de sua confiança política.
Mas depois ela pensou melhor e decidiu colocar tudo o que escrevia nos jornais. E assim, utilizava-o como um confidente. Muitos acharam um erro crasso, outros, a maior genialidade que tinha passado por aquela redação em séculos de existência.
Alguns riam do que ela escrevia; outros refletiam sobre os seus textos tentando aplicá-los de forma secreta em suas vidas sem propósito ou perspectiva nenhuma. E assim, ela passou a ser conselheira por onde passava como se estivesse descoberto algum elixir para a vida eterna.